Evandro Borges

Advogado e especialista em gestão pública.

Amigo José Wilson da Silva vai em paz

09/05/2025 12h18

 

Conheci o amigo José Wilson da Silva (Zé Wilson) no trabalho da advocacia no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Ceará Mirim, ainda na presidência de João Batista Bezerra, como médico atendia todos os sábados, era clínico geral, cardiologista, psiquiatra, competente, um dos bons. Casado com Vilma Pereira Ferreira da Silva. Filho de agricultor. Trabalhou na Usina Ilha Bela. Seu genitor era um dos primeiros associados ao Sindicato.

 

O sábado, dia de feira em Ceará Mirim, o Sindicato fervilhava de associados, vindo de todas as comunidades rurais, basta dizer que a zona rural de Ceará Mirim ainda é a maior do Estado, naquela época funcionava usinas, engenhos, e agricultura de subsistência que precedeu a agricultura familiar como existe hoje. O atendimento advocatício e médico era intenso aos associados e membros da categoria profissional.

 

O sentimento do médico Zé Wilson pelo Sindicato era de identidade com a categoria, conhecia os condicionantes econômicos e sociais com profundidade, atendendo com muito cuidado e esmero os associados, tinha pacientes que apenas queriam vê-lo. Era preciso fazer a lista de atendimento com todo o cuidado dando preferências as urgências e retornos necessários, mesmo assim não parava de atender, seguia até a exaustão, um verdadeiro missionário.

 

Zé Wilson chegou no Município de Maxaranguape no projeto do governo Lavoisier Maia denominado “Um médico em cada Município”, um verdadeiro diferencial, quando não existia SUS, e lá se radicou constituindo família e residência. Visitei várias vezes a casa de sua família, sempre recebendo bem, acompanhado de uma boa música, pois tocava violão e cantava. Contudo, todos os sábados atendia no Sindicato, quando nos encontrávamos.

 

O amigo Zé Wilson, quando chegou em Maxaranguape teve um fato pitoresco que fazia questão em ressaltar, pois sabia da minha paixão pelo América/RN. No início de sua profissão em Maxaranguape, quando foi chegando em casa tinha uma multidão, ficou sobressaltado com aquele fato. Quando se aproximou era o Gigante Rubro, um programa de prêmios, com um carro, tinha sido sorteado o número do seu carnê, e logo protestou, comprou as duas séries a e b, e estava completamente em dia, portanto eram dois carros, e assim recebeu os dois automóveis.

 

Em Maxaranguape foi vereador, e na sua campanha colaborei, estive com ele e Urbano, sindicalista, que foi candidato a Senador, potiguar de São Paulo do Potengi e Presidente da CONTAG, hoje residindo em Brasília. Visitamos os assentamentos, caminhadas, e participamos ativamente do comício em Dom Marcolino, uma área de colonização rural promovida pela Igreja Católica, que teve no início à liderança de José Rodrigues Sobrinho.

 

No comício de Dom Marcolino, o palanque lotado, candidatura majoritária a Prefeito de Amaro Saturnino, e todos os candidatos a vereadores. O poeirão cobria. Quando Urbano foi falar a atenção era geral, já tinha sido candidato a Senador com uma estupenda votação na chapa com Garibaldi e Geraldo Melo, era o segundo candidato ao Senado. No final da fala de Urbano pediu com todo respeito aos demais candidatos a vereança, o voto para Vereador em Zé Wilson. Palanque quase foi abaixo. Até hoje Amaro reclama.

 

Zé Wilson era uma pessoa humana formidável, amigo daqueles para sempre, parafraseando Milton Nascimento e Fernando Brant, um médico e profissional comprometido com as pessoas em vulnerabilidade social, cidadão do seu tempo, partiu aos setenta anos, entre quinta e sexta-feira da presente semana de maio de 2025, deixando uma saudade imensa.

 

O seu féretro aconteceu no Ginásio de Esportes de Maxaranguape. Quando cheguei para dar as minhas despedidas, já encontrei Maria Auxiliadora (Sula) e Iassonara do Sindicato de Ceará Mirim, Gildênia e membros da diretoria do Sindicato dos Trabalhadores de Poço Branco, a entrada da urna funerária com o corpo de Zé Wilson no Ginásio recebeu o aplauso de todos os presentes. 

 

Vai em paz amigo Zé Wilson, você é um pássaro que vai cantarolar em outras dimensões com os anjos, aqui ficaram Vilma, os filhos, as amizades, o seu legado de amorosidade, de profissional dedicado e comprometido com os mais vulneráveis, de enfrentar os desafios, conhecedor dos Municípios em que convivia, a realidade dura da existência humana.

 

 


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