Eva Potiguara

Eva Potiguara pertence ao Povo Potiguara Sagi Jacu, em Baía Formosa/RN. Graduada em Artes visuais, Mestrado e Doutorado em Educação pela UFRN, é Professora e pesquisadora do IFESP-SEEC, atuando nos cursos de Pedagogia e Letras. É produtora cultural da EP Produções, escritora, ilustradora, contadora de histórias, articuladora nacional do Mulherio das Letras Indígenas, membro da UBE/RN, da SPVA e de várias academias de Letras no Brasil e em Portugal. Tem livros solos infantis e de poesia, publicados no Brasil

Poética para incomodar o capitalismo colonial

26/04/2025 05h21

 

 

Neste final do “abril indígena,  ao invés de crônica, trago versos que ecoam as dores coletivas e os crimes da invasão que a escola me ensinou que se tratavam da “história do Brasil”: 

 

Em resposta ao sistema colonial capitalista trazido pelos navegantes europeus que invadiram Pindorama em 1500  e que ainda seguem ferindo nossa Terra e os nossos corpos territórios, em cumprimento aos princípios ocidentais da bandeira  de “ordem e progresso”, eis minha/nossa manifestação:

 

Na primeira noite,

eles se aproximaram 

e roubaram os frutos e árvores 

de nossas florestas 

E não fizemos nada,

porque tínhamos muita flora 

e queriamos paz

Na segunda noite, 

envenenaram nossos rios,

mataram nossas caças por simples vaidade,

Nossos avós enfurecidos, os enfrentaram 

com suas lanças e flechas.  

Eles morreram lutando, tombaram sob as armas de fogo.

Os seus filhos foram escravizados,

Suas filhas raptadas e abusadas.  

Eles e elas aprenderam a falar a

língua dos invasores,

Suas culturas e tradições. 

Até que um dia,  elas e eles se tornaram nossos pais, nos contaram as suas histórias 

E descobrimos que éramos sementes de resistência. 

A mais frágil de nós, 

Lembrou sobre honrar os ancestrais. 

Nos juntamos a ela  e retomamos à luta. 

Declaramos que esta é a nossa casa,

Ninguém mais irá colonizar os nossos 

corpos e mentes,

Porque somos filhas e filhos desta Terra, 

Sementes vivas de Pindorama! 

 

Disseram os invasores:

Eles não  tem religião 

Não têm alma 

Nem belas Artes 

Povo sem instrução 

Bichos feios do mato

Criaturas selvagens 

Seres sem valores  

Nus depravados

Canibais sem leis 

De culturas inferiores

 

Mas nós respondemos:

A Terra Mãe é nossa ciência 

Somos água, fogo e ventania 

Irmãos da fauna e da flora

Natureza em resistência  

Morremos para renascer 

Nas águas curandeiras

Encantados nas ervas e rezos 

Como sementes  do bem viver 

Por liberdade sem fronteiras 

Nossas Artes são milenares 

Cultivamos culturas plurais 

Das árvores nossas avós 

Para as danças e cantorias !

 

Eva Potiguara 

 

Abril de 2025. 

 


*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).