Eva Potiguara pertence ao Povo Potiguara Sagi Jacu, em Baía Formosa/RN. Graduada em Artes visuais, Mestrado e Doutorado em Educação pela UFRN, é Professora e pesquisadora do IFESP-SEEC, atuando nos cursos de Pedagogia e Letras. É produtora cultural da EP Produções, escritora, ilustradora, contadora de histórias, articuladora nacional do Mulherio das Letras Indígenas, membro da UBE/RN, da SPVA e de várias academias de Letras no Brasil e em Portugal. Tem livros solos infantis e de poesia, publicados no Brasil
Neste final do “abril indígena, ao invés de crônica, trago versos que ecoam as dores coletivas e os crimes da invasão que a escola me ensinou que se tratavam da “história do Brasil”:
Em resposta ao sistema colonial capitalista trazido pelos navegantes europeus que invadiram Pindorama em 1500 e que ainda seguem ferindo nossa Terra e os nossos corpos territórios, em cumprimento aos princípios ocidentais da bandeira de “ordem e progresso”, eis minha/nossa manifestação:
Na primeira noite,
eles se aproximaram
e roubaram os frutos e árvores
de nossas florestas
E não fizemos nada,
porque tínhamos muita flora
e queriamos paz
Na segunda noite,
envenenaram nossos rios,
mataram nossas caças por simples vaidade,
Nossos avós enfurecidos, os enfrentaram
com suas lanças e flechas.
Eles morreram lutando, tombaram sob as armas de fogo.
Os seus filhos foram escravizados,
Suas filhas raptadas e abusadas.
Eles e elas aprenderam a falar a
língua dos invasores,
Suas culturas e tradições.
Até que um dia, elas e eles se tornaram nossos pais, nos contaram as suas histórias
E descobrimos que éramos sementes de resistência.
A mais frágil de nós,
Lembrou sobre honrar os ancestrais.
Nos juntamos a ela e retomamos à luta.
Declaramos que esta é a nossa casa,
Ninguém mais irá colonizar os nossos
corpos e mentes,
Porque somos filhas e filhos desta Terra,
Sementes vivas de Pindorama!
Disseram os invasores:
Eles não tem religião
Não têm alma
Nem belas Artes
Povo sem instrução
Bichos feios do mato
Criaturas selvagens
Seres sem valores
Nus depravados
Canibais sem leis
De culturas inferiores
Mas nós respondemos:
A Terra Mãe é nossa ciência
Somos água, fogo e ventania
Irmãos da fauna e da flora
Natureza em resistência
Morremos para renascer
Nas águas curandeiras
Encantados nas ervas e rezos
Como sementes do bem viver
Por liberdade sem fronteiras
Nossas Artes são milenares
Cultivamos culturas plurais
Das árvores nossas avós
Para as danças e cantorias !
Eva Potiguara
Abril de 2025.
*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).