Advogado. Assessor no Tribunal de Contas. Doutor e mestre em ciências sociais pela UFRN.
AMANTES DA DITADURA
Não sei se vocês já notaram que existem eleitores que são verdadeiros entusiastas do nascimento de uma ditadura bolsonarista no país. Essas pessoas desejam a força da chibata para qualquer um que resolva discordar do atual presidente. É interessante perceber que elas diferem dos apoiadores que não entendem nada de conjuntura política: os reféns das falsas notícias. Esses são apenas pobres iludidos que sofreram um processo de “frankesteinização”.
Os apreciadores da ditadura são de outra estirpe. Eles sabem muito bem o que se passa. Mas mesmo assim continuam a achar bonito o topete presidencial à moda Hitler. São pessoas esclarecidas, com curso superior na bagagem e que têm capacidade intelectual para entender o que está a acontecer quando Bolsonaro espinafra com o presidente do TSE e ataca o voto eletrônico.
Elas agem dessa forma porque desejam a volta de um regime ditatorial; sonham com um governo que não possa ser contestado e que impeça o retorno de ações capazes de amenizar a desigualdade reinante. Nada de mexer no “direito” de ter duas babás e uma empregada doméstica, por tempo integral e pagando dois tostões. Nem pensar em ter que novamente dividir o avião com o pedreiro que construiu a sua casa. O bom mesmo é continuar fustigando negros, nordestinos, mulheres e gays sem qualquer preocupação com o tal do politicamente correto. Para os apaixonados da ditadura, o interessante é que esses incomodados peçam permissão para existir ou se calem de uma vez por todas. E tanto melhor se o governo colocar logo uma corda com cinco ou seis nós na boca da multidão.
É por isso que os amantes da ditadura continuam a apoiar Bolsonaro e os seus ataques à democracia. Eles compreendem o que um regime de força representa em termos de ausência de liberdades. Mas não têm nenhum problema em ver o presidente agir como a rainha de copas de Alice, desde que seus interesses sejam preservados.
Eles só ainda não têm coragem de externar essa vontade. Daí porque se escondem reverberando o discurso pronto do combate à corrupção, da ojeriza à esquerda e outras coisas do tipo, mesmo quando o laranjal do Queiroz e o “roçoio” no Ministério da Saúde digam que as coisas são bem diferentes. Mas que ninguém se engane. No caso do surgimento de um governo autocrático, os desejosos da ditadura serão os primeiros a tomar as ruas em comemoração à perpetuação dos seus privilégios e à possibilidade de o Estado encostar um 38tão na cabeça dos adversários. São espécimes já conhecidas da arqueologia política brasileira, que se deram bem no infortúnio de 64.
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