Advogado. Assessor no Tribunal de Contas. Doutor e mestre em ciências sociais pela UFRN.
Se tem uma coisa que anda pra lá de Bagdá é o jornalismo. A sua dependência aos poderes político e econômico parece alcançar níveis explosivos. Com as vendas dos periódicos despencando por força da concorrência virtual, e sem conseguir se manter com a verba que sempre entrou via anúncios publicitários, a imprensa passou a ter uma espécie de dependência química do dinheiro público e do grande capital.
A conexão entre jornalismo, política e economia, que é coisa mais velha do que andar para frente, ganha contornos dramáticos, de pura sobrevivência.
Já não se trata mais de pagar as parcelas do carro de luxo e a conta do restaurante do dono da "prensa". Agora, o capital político serve para bancar a feira e a conta de luz. Consequência óbvia disso é que as notícias são publicadas ao sabor dos interesses de quem sustenta a existência do sistema de comunicação. As matérias são pautadas a partir de um só princípio: não desagradar ao gosto do “acionista majoritário”. De maneira que o ideal de imparcialidade se torna uma utopia no melhor estilo Thomas Morus. E o jornalismo acaba trabalhando com meias verdades, existindo, quase sempre, para desinformar.
O pior é que isso é apenas parte do problema. Essa interferência do dono do dinheiro, no próprio funcionamento da mídia, tem contribuido para que o nível dos jornalistas desça ladeira abaixo.
Não se contrata mais jornalista pela sua capacidade profissional, mas pela habilidade de defender, de forma contundente, os interesses do chefe.
O que vale é o sujeito ter boa retórica e causar polêmica. A qualidade da informação que se exploda. Daí porque, é cada vez mais comum se ver jornalista confundindo opinião com achismo, produzindo debates mais rasos do que piscina infantil.
Mas existe uma diferença entre o que se acha e o que a realidade indica. Achar todo mundo acha.
Há quem ache, por exemplo, que asilo político e anistia são quase as mesmas coisas...
O jornalismo minimamente sério, porém, precisa necessariamente ir além disso, e se posicionar baseado em fatos, na realidade, com visão geral dos acontecimentos, e não apenas em pré- julgamentos. Caso contrário, ele será completamente engolido pelos Youtubers da vida, especialistas exatamente em destilar seus "argumentos" com ar professoral, na base da retórica inflamada, mas facilmente contestáveis.
É preciso urgentemente encontrar meios para acabar com esse jornalismo de qualidade zero, que tem grassado aqui e alhures.
*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).