Fernando Luiz

14/04/2024 06h42

NOVOS TEMPOS

“Quem despreza a cultura de um povo, comete um crime contra a alma deste povo”.

A frase não é minha. Ouvi-a da atriz Lucélia Santos, a algum tempo, em um programa da Globo News. Com certeza, isto é uma grande verdade.

Nos últimos anos houve um crescimento do que se denomina Indústria Cultural.  Nos dias de hoje, mais do que nunca, apesar do espaço proporcionado pelas redes sociais, está provado que o Rádio e a TV, em muitos casos se transformaram em parceiros de empresas promotoras de eventos, principalmente na área de shows. Na música, a TV e o Rádio abrem espaço para o que tem apelo comercial; isto gerou a predominância do que é considerado moderno (produto de consumo imediato) sobre o que é considerado tradicional (produto sem objetivo de consumo). Ao longo dos anos, impulsionado, sobretudo pela TV, isto se tornou uma realidade e gerou uma situação em que sempre predomina o interesse econômico. E não se pode apenas culpar os meios de comunicação por isto, por duas razões: A) No Brasil, o Estado nunca prestigiou a cultura, o que facilitou a invasão na nossa mídia por elementos em nada identificados com nossos valores culturais. B) Os meios de comunicação, que geram emprego e renda, precisam de audiência para sobreviver e crescer. Para atenuar as consequências desta situação, foram criadas as Leis de Incentivo à Cultura, com dois objetivos principais: facilitar a produção artística independente e permitir que a população possa ter acesso a bens e a produtos artísticos e culturais. Ou seja: estas leis surgiram como uma alternativa tanto para artistas independentes, como para uma população que, em circunstâncias normais não teriam acesso a shows, eventos e outros bens culturais, para dar apenas alguns exemplos. As leis de incentivo têm permitido a descoberta de talentos na Música, no Cinema, no Teatro, na Literatura, nas Artes Plásticas, na Dança, etc. E, além disso, artistas injustiçados têm sido resgatados e muitas das nossas tradições preservadas.

Recentemente, com o surgimento das Leis Aldir Blanc (que instituiu uma política de fomento à Cultura) e Paulo Gustavo (considerado o maior investimento direto já realizado na área cultural), o leque de opções para os atores da cena cultural do país se ampliou. Estas leis têm permitido que artistas e grupos independentes que atuam nos mais diversos segmentos da cultura, tenham meios de buscar recursos e novas alternativas para viabilizar seus projetos. É indiscutível que existem em todas as áreas artísticas-culturais, circuitos alternativos de qualidade, que carecem de maior apoio para conquistar visibilidade; estes circuitos realizam intervenções culturais em áreas urbanas, contemplando uma série de manifestações culturais: música, teatro, cinema, dança, folclore, podendo abranger outros campos de conhecimento como arquitetura, só para citar mais um exemplo.

Na condição de artista popular, enfrentei por muito tempo, preconceito por cantar um estilo de música que, apesar de imortal, é considerado brega simplesmente porque as canções enquadradas neste estilo têm letras simples, ritmo dançante e harmonias descomplicadas. Desde 1969 exerço a minha profissão de cantor popular e durante todo este tempo tenho lutado contra o preconceito e contra uma espécie de bullying cultural que atinge não só a mim como também a centenas de artistas do meu estilo.

Com a criação das duas leis já citadas, os artistas populares podem ter acesso a estas leis para viabilizar projetos culturais nas mais diversas áreas, com um detalhe: como estas leis são executadas por meio de editais, os artistas precisam ter conhecimento sobre o modus operandi destas leis, ou então contratar alguém com conhecimento técnico que os represente.

No ano de 2002 eu idealizei o Show das Comunidades que, através da Lei Djalma Maranhão, realizava mensalmente shows ao ar livre em bairros populosos de Natal; criei o projeto para dar oportunidade a artistas da periferia que não tinham espaço para mostrar seu trabalho. Em 2008, criei o programa Talento Potiguar, cujo objetivo era descobrir novos talentos através de concursos e divulgar o trabalho dos nossos artistas conhecidos. No ar desde 2008, o Talento Potiguar, desde ontem, 13.04 está sendo exibido pela TV Ponta Negra, numa parceria com a Idearte Produções, de Amaury Júnior.

Novos tempos são chegados para a arte e a cultura potiguar. A partir de hoje, sempre aos domingos, terei a honra de ocupar um espaço aqui no Potiguar Notícias; tanto o programa na TV Ponta Negra quanto este espaço aqui, são muitos importantes – cada um na sua área de alcance - para que eu possa continuar promovendo e divulgando a arte e a cultura do nosso estado, sempre defendendo o artista popular.

No caso do Potiguar Notícias, quero registrar aqui o agradecimento à diretora Irandi Pinto que atendeu à minha solicitação, ao mesmo tempo em que a parabenizo pela luta incansável em defesa do legado de Pinto Júnior, criador do Potiguar Notícias, um veículo informativo que, há 26 anos, através de um jornalismo comprometido com a   ética e a qualidade, inscreveu seu nome na história da Imprensa potiguar.

Fernando Luiz é cantor, compositor, apresentador e produtor cultural. Instagram: @fernandoluizcantor
 


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