Eliade Pimentel

11/03/2024 11h06

 

Mês da mulher e a eterna luta contra o machismo estrutural

 

Passei a tarde ouvindo “pérolas” de três homens, sobre mulheres, mas eu não estava a fim de entrar no debate, muito menos, no embate ideológico. Até que eu falara sobre o cuidado que eu tive com uma senhora indígena, resolvendo uma situação delicada, e um dos caras questionou sobre o porquê de preservar a cultura indígena brasileira – “por que essa cultura é boa?”. E no intuito de desqualificar, ele próprio falou que o machismo está presente em algumas culturas tidas como “boas”, e citou a indígena brasileira a e cultura japonesa. 

Calada estava até então, caí para cima, “matando”, dizendo que passei a tarde ouvindo frases machistas dos três homens, e também a forma como trataram uma senhora que cata e vende mangabas. Pela aparência dela, a gente logo percebe o quanto ela é sofrida e aquele é o único ganha-pão dela. E assim começou a discussão, eu defendendo as mulheres de uma maneira geral das frases machistas dos homens ali presentes, um deles até já havia saído. Falavam sobre faixas etárias (até que idade eles “preferem” as possíveis parceiras) e sobre mulheres que têm filhos de mais de um pai, como se fosse escolha ou responsabilidade apenas das mães.

Eu estava tão calma, durante a tarde, apenas curtindo “de boa na lagoa”, mas me enfezei, pelo fato de que sempre, sempre, no nosso dia a dia, somos obrigadas a ficar caladas, porque se cada mulher for discutir com a “macharada” de plantão, vai ser um degaste eterno.

E na minha defesa, sobre a pauta que se tornou acalorada, o tema da cultura indígena brasileira, falei da importância de se ressaltar o modo de vida simples, a alimentação saudável, a medicina natural, a sabedoria das mulheres etc, e sobretudo, por respeitarmos os povos originários, que estavam aqui antes da chegada dos europeus. Ao qual o homem rebatia, dizendo que essas pessoas também teriam invadido o Brasil.

Tem horas que a gente não acredita no que ouve. Esse tipo de gente acha normal a forma como os europeus dizimaram os indígenas brasileiros, extirpando quase que por completo sua cultura, ao ponto de os poucos remanescentes não revelarem sua origem, no dia a dia, cenário que só veio a mudar por conta das políticas afirmativas implementadas no primeiro governo do presidente Lula. Foi quando começamos novamente a reconhecer povos indígenas brasileiros que até então estavam encobertos, como os Paiacu, de Apodi, os Potiguaras do Amarelão, do Katu, do Sagi e Jacu, e Tapuia Tarairiús, de Macaíba e São Gonçalo do Amarante.

Aprendemos tantos com os povos originários, ao mesmo tempo que sofrem tanto desprezo da sociedade. É uma luta eterna conversar com homens, porque eles sempre se acham superiores. Mas, onde tenho assento, não saem ilesos. Sei que não vou mudar a cabecinha de prego que a maioria tem, mas sigo determinada ao combate.

Sobre as mulheres que têm filhos de pais diferentes, gostaria que os caras se responsabilizassem e não deixassem essa carga sempre nas nossas costas. Cansada de ouvir falarem de mulheres como se fosse objetos sexuais. Cansada de passar pano pro machismo estrutural. Cansada de ficar calada quando ouço falarem mal de nós. Direitos iguais sim, reparação histórica sempre. Por e para todas! Sigamos!


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