Eliade Pimentel

13/11/2023 12h21

 

Ex-aluna da Escola Doméstica

 

Mulher de 51 anos, aparentemente sem nenhum outro título mais relevante herdado ou conquistado para ser destacado, sobre sua pessoa, teve o fato de ser ex-aluna da Escola Doméstica utilizado como um adjetivo recorrente, em seu recente quadro de desaparecimento – já resolvido com saúde, ou eu não estaria escrevendo quase em tom de pilhéria essa história.

Figura saída relativamente havia pouco tempo do “jet set” potiguar – termo cunhado para reunir numa tacada só a cambada de boas-vidas que vivem a vida de “boreste” – de uma hora para outra sumiu. De verdade. Aparentemente, saiu sem paradeiro certo. Apareceu em São Paulo, terra das famílias quatrocentonas. Mesmo não havendo amor em SP.  

Segundo uma coluna social, a jovem senhora recém-chegada à meia-idade estava desaparecida das rodas sociais fazia um tempo, desde que se separara, e então passou a não figurar nem em festas, quanto mais em redes sociais, passando a ser um ser cada vez mais raro, que sequer utiliza aparelho celular.

Ex-aluna da Escola Doméstica desaparece sem deixar rastros. Claro que entrei no time das pessoas surpreendidas com essa qualificação, mesmo que a escola realmente deixe marcas e até cicatrizes em quem por lá tenha passado. Como a maioria das escolas, aliás.  

Mas, a ponto de servir de adjetivação para quem esteja sumida? Nossa, mas como eu não me toquei, vi aquela mulher e porque não a identifiquei imediatamente, esse ser tão nobre? Talvez se ela tivesse passado por mim eu teria questionado o fato de não reconhecer na desaparecida uma ex-aluna da ED.

Seria um título de nobreza, perguntou a seguidora de um blogue, que se utilizou à exaustão da pretensa referência. Ao que uma, de fato e de direito, aparentemente, ex-aluna, manifestou-se: deve ser porque você não é.

Não, não sou, de imediato me identifiquei com a comentadora. Sou ex-aluna de tantos lugares, e os que mais me dão suporte à vida profissional são UFRN e IFRN. Nem por isso, creio que eu seria classificada, em ação de sinistro, com essa caracterização. Talvez dissessem jornalista tal, mas não ex-aluna de tal lugar. Talvez.

Não sei o que mexe com a cabeça das pessoas ao publicar algo, quase copiando e colando, sem pensar duas vezes. Eu também tenho um título, Rainha das Mangueiras, e minha filha é a Princesa das Mangabas. Eu mesma titulei a ambas. Baseado no nosso endereço campestre.

Fiquei a pensar, na tal mulher. Ao ver sua história estampada no noticiário, algo dizia que eu já ouvira falar em seu nome. Revirei minha memória, nenhum fato e nenhuma pessoa em comum. Só um nome, uma beleza estonteante e uma foto presumivelmente retocada no computador.

Pelo que me consta, uma socialite, como costumam se referir às abastadas da sociedade, que vivem muito bem, obrigada. História que me lembra o maravilhoso romance “Por onde andará Dulce Veiga”, de Caio Fernando Abreu, transformado em filme, pelo cineasta Guilherme de Almeida Prado, em 2007.

De onde se conclui que, não se pode sumir, principalmente hoje em dia, quando um simples descarregamento do aparelho de telefone gera a “morte celular”. Nem uma pobre mortal como eu teria sossego, ou passaria incólume. Quanto mais uma ex-aluna da ED. Jamé, incautos e incautas.

*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).


*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).