Eliade Pimentel

01/03/2022 11h08
 
 
“Se sentir que tá gripando, esprema uma bandinha de limão e tome com umas gotinhas desse óleo”, disse a agricultura familiar e benzedeira Terezinha Dantas de Oliveira ao me ofertar mais um mimo, um frasquinho de óleo de coco produzido pelas mulheres de sua comunidade. Ela e sua filha Amarilda estão entre as 100 famílias que há seis anos vivem no Acampamento Antônio Batista, situado às margens da RN-118 em Alto do Rodrigues, no Distrito Irrigado do Baixo Açu (DIBA). 
 
Eu já havia recebido macaxeira, jerimum, salsa e maxixe, e estava feliz da vida com tanta riqueza, tanta comida de verdade produzida em meio a tantas adversidades. Dentro do carro, eu já não contive mais as lágrimas, e lavei a alma por enxergar tanta sabedoria, tanta generosidade e tanta força de vontade naquela senhorinha de 68 anos de idade, dona de exuberantes e ricas plantações de feijão, hortaliças, banana e maracujá no perímetro irrigado, único no Rio Grande do Norte, talvez único no Nordeste e no Brasil, utilizado por agricultores familiares. Geralmente as áreas irrigadas são destinadas ao agronegócio. 
 
Fui a trabalho conhecer o acampamento, que em breve se transformará em assentamento através de um projeto executado pela Secretaria de Estado do Desenvolvimento Rural e da Agricultura Familiar (Sedraf-RN). Desde o ano passado eu estava muito ansiosa para conhecer aquele lugar, pois já ouvira falar que as mulheres e os homens que vivem ali de modo tão simples, quase sem nenhuma comodidade ou assistência, estavam produzindo comida de verdade, praticando a agricultura de base agroecológica. 
 
Quando chegamos, notei que as pessoas estavam sentadas numa salinha de aula improvisada. Sentei-me num dos bancos de madeira e dei um giro com meu olhar curioso de repórter que não dispensa uma história de vida simples e saudável. Escolhi me sentar ao lado dela, a senhorinha franzina, de feições curtidas pela lida diária de sol a sol. 
 
Aos poucos, comecei a fazer perguntas sobre o modo de vida da comunidade. Simpática e falante, ela me contou que, mesmo sendo aposentada, luta por um pedaço de chão porque além de ser apaixonada pela agricultura e ama trabalhar na terra, sonha em deixar um legado para sua família. 
 
Percebendo as dificuldades que aquelas pessoas têm para viver em um lugar ermo, em que a falta de sinal de internet é quase um detalhe sem sentido em meio às demais coisas essenciais que faltam, como acesso à água potável e assistência médica, perguntei como é que a comunidade se arranja com relação aos cuidados básicos de saúde. 
 
Apaixonada pela medicina natural, enveredei o assunto por essa temática e confirmei que a maioria daquelas 100 famílias acampadas no DIBA se valem de mezinhas e curandeirices ensinadas pelas pessoas mais velhas, como me disseram duas mulheres que atuam como lideranças comunitárias. Tem uma benzedeira aqui?, perguntei. D. Terezinha, sorridente, disse. “Eu”. Se eu estava emocionada, fiquei ainda mais impressionada com aquela senhora.
 
Eu estava diante de um verdadeiro patrimônio imaterial potiguar, conforme versa a Lei Estadual Chiquinha Ferreira, de autoria da deputada Isolda Dantas, sancionada em 2021, pela governadora Fátima Bezerra. Não posso deixar de reverenciar essas duas mulheres que em tão pouco tempo têm feito tanto pelo povo simples do nosso elefante. D. Terezinha é um patrimônio imaterial e em breve, com as bênçãos da Mãe Terra, receberá seu quinhão de terra, graças à política de reforma agrária implantada no governo popular da professora. Oxalá.

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