Eliade Pimentel

11/06/2021 15h10
 
Santo Antônio passa na frente
 
Comecei a semana anunciando alto e solenemente que no dia 12, data dedicado ao santo casamenteiro, farei um mini arraiá, para quem estiver em casa. Ou seja, nada de aglomerações. Pensei logo na mão de milho, ou seja, aquela clássica promoção de 50 espigas de milho na feira da Central da Agricultura Familiar (Cecafes). Quando eu estava quase desistindo do meu projeto junino por conta da logística, lembrei que moro em comunidade e captei outros compradores, de modo que barateamos o frete. 
 
Ao falar de minha ideia, a filha que adora milho ficou sonhando com a realização dessa festinha particular. A gente vai fazer milho como? E eu, com bastante naturalidade, respondi: com uma mão de milho, minha filha, vai ter milho assado, cozido, pamonha, canjica. Eu mesma comecei a rir, porque não sei fazer canjica, muito menos, pamonha. Ou melhor, não sei ainda. Vou pesquisar e farei nem que seja um prato. Ô coisa boa é comida junina. Ô trem bão é o período junino. 
 
Dança junina, então, ah como adoro um forrozinho pé de serra. Antes eu não gostava, depois fui começando a entender que o mês de junho causa um frenesi nas pessoas, especialmente para quem mora no Nordeste. E a cada ano, aumenta meu fogo e minha paixão. Com a pandemia, estamos privados de eventos que causem aglomerações, mas não estamos proibidos de festejar o amor, de festejar a colheita do milho, de festejar o que a vida tem de melhor. A esperança e a graça. 
 
E dentro desse contexto, fico feliz por ter ideias que me ajudam, dentro do meu modo de vida simples, a colocar em prática coisas que alteram significativamente meu humor, sem afetar tanto a minha conta bancária. A gente paga 30 reais por 50 espigas, tem mil e uma possibilidades de comidinhas deliciosas, exercita a socialização na comunidade, ajuda a fomentar a agricultura familiar, consumindo e divulgando os produtos, etc e tal. 
 
Vou até aproveitar para passar aqui uma receitinha de família de um delicioso bolo de milho. Essa matéria eu passo com louvor. Se eu pudesse, teria fotografado a receitinha escrita com a letra de minha mãe: 6 espigas de milho verde, 2 xícaras (chá) de leite (pode ser de coco), 2 colheres (sopa) de manteiga derretida (ou óleo de coco), 2 xícaras de açúcar (tenho preferência por demerara), 4 ovos, 1 colher (sobremesa) de fermento em pó e canela a gosto. 
 
O modo de fazer é muito fácil. Primeiro retira os grãos, tritura o milho com os demais ingredientes no liquidificador e coloca o fermento por último. Levo para assar em forma tipo tabuleiro, no forno moderado, preaquecido. Acho melhor untar e enfarinhar a forma com amido de milho, para preservar a receita naturalmente sem glúten.
 
Eu gosto de passar receita, de dar soluções, de evitar todo e qualquer tipo de atitude que possa gerar desperdício ou significar retrabalho. Tem dias que estou parada, com preguiça, matutando coisas no meu jeito de ser. Procuro não ser tão desistente, apesar de nem sempre ser determinada como eu gostaria. Estou relatando tudo isso porque não somos super heróis, nem super heroínas, não temos mega poderes. A obstinação e a apatia convivem não sem uma certa desarmonia, e toleram-se. 
 
Apesar de sermos seres limitados, com pequenas atitudes somos capazes de causar uma revolução ao nosso redor. Não deixemos morrer nossa fantasia. Com ou sem roupa xadrez, façamos nossa quadrilha. Vamos dançar, vamos sorrir, vamos agradecer esse dia, porque estamos vivos. O santo da vez é ele, Santo Antônio. Que a sua bondade seja nosso guia nesses dias incertos que infelizmente ainda teremos por vir. O dia em que a terra parou ainda não terminou. 
 

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