Eliade Pimentel

15/08/2022 17h18

 

Vida simples: arrasta pra cima e me segue para mais dicas
 
Estou no supermercado confabulando com a caixa. Bem a minha cara. Dando dicas de sobrevivência em meio à carestia. Todo mundo em sã consciência sabe do que estou falando. Não é retórica ou demagogia: está mesmo tudo pela hora da morte. Até as coisas baratas, que muitas vezes demoram a subir de preço, tiveram seu custo multiplicado por mil. A pessoa tem até medo de entrar numa loja. Eu que só pouco consumista, estou economizando até no xampu, e por que não revelar, no desodorante. 
 
Optei pelo leite de magnésia. Pensei: se podemos beber é porque tem menos química dos que os convencionais. É mais barato e rende que só. Misturado ao óleo de coco e umas gotas de essência, segura o suor por um bom tempo. O suficiente para recender ao longo do tempo nosso próprio cheiro, natural de cada ser humano. Ora, Jean Baptiste Grenouille, protagonista de O Perfume (Patrick Süskind), sofreu o pão que o diabo amassou por não ter seu cheirinho natural. Venhamos e convenhamos, faz parte do nosso marketing, por que negar? 
 
Vida simples e saudável é meu lema de vida. A segunda parte diz mais respeito a procurar o equilíbrio em meio às possibilidades e oportunidades. Ou seja, nem sempre programo o que comer, nem sempre consigo me ocupar com a procedência da minha alimentação, mas de uma maneira geral minha meta é equacionar valor, preço, custo, praticidade, economicidade, entre outras premissas, como agroecologia e comércio justo. Por isso sou fã da agricultura familiar e de produtores(as) artesanais. 
 
Minhas listas de compras são sempre curtinhas. Recentemente fui a dois estabelecimentos de bairro. Um perto de casa, em Pium, e outro a uns 08 km de distância, na Vila de Ponta Negra. Consigo pensar rápido sobre o que tem em casa, o que estou precisando e a oferta do mercado. Dessa vez trouxe até umas sandálias na promoção. Dez contos o par de “ipanemas”. A amiga falou em “salpicão”, já foi o mote para eu me lembrar de comprar peito de frango, azeitonas e dueto de milho e ervilha. Decidi aproveitar a maionese barata que a pizzaria mandou, para não ter gastar com creme de leite. 
 
No setor de higiene pessoal e limpeza, compro o básico e bem baratinho. Algumas coisas em dose dupla, para mim e a filha. Na fila, ainda passei a “kaiser” do rapaz, que só tinha 2 reais e era 29 centavos a mais. É a crise. Quem nunca teve sede de uma cerva? Chegou ao ponto de eu falar que gastar mais de 120 no mercado virou uma baliza da relação custo-benefício, pois comprei o litro de “mel de jandaíra” por esse mesmo valor e estou achando é bom. A moça fala que mel é bom e alimenta, sendo que ela compra mais barato.
 
Ressalto o valor da famosa abelha sem ferrão, cujo mel é mais nutritivo, considerado de alto valor medicinal e não cristaliza. Dá para guardar na geladeira. Falo do limão do meu quintal, fruto da minha bebida matinal com própolis e mel. Ressalto a promoção da “chinela”, que vai me ajudar a aliviar um fungo que se complicou, e cito o vinagre, dois motivos de eu ter ido às compras. 
 
E assim, entre conferências de cupom fiscal e risadas, eu estava falando para a atendente: “arrasta pra cima e me segue para mais dicas”. Foi uma brincadeira, visto que não ajo no meu dia a dia como blogueira. Até deveria, mas é uma questão de “vibe” mesmo. Apesar de eu ser comunicadora não consigo ficar 100% online, falando coisas bacanas nas redes sociais. Sequer eu tinha um cartão. Anotei meu perfil do Instagram num papel, falei que pelo meu nome também me encontra. E amei ela ter se interessado pela conversa. 
 
E assim, saí rindo de mim mesma. É possível não se render, não se frustrar, não se desesperar. Há uma lista de compras dentro de suas possibilidades. Mas, não esqueça. A carestia chegou a esse nível porque alguém está conspirando contra. A dica é mudar esse sistema. E você sabe como. 

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