Bia Crispim

12/08/2022 09h02

 

EU SOU O QUE SOU

 

É com música que começo a coluna de hoje. Deixo até o link aqui pra você ouvir enquanto me lê. Quem você vai ouvir? Gloria Gaynor, DIVA, ao vivo, direto dos 80’s, pra se arrepiar e dançar se quiser. (https://www.youtube.com/watch?v=mgvEYYLu6cs)

Aproveito e deixo o link da letra com a tradução pra você acompanhar. (https://www.letras.mus.br/gloria-gaynor/63540/traducao.html)

 

“I am what I am/ I am my own special creation/ So come take a look/ Give me the hook/ Or the ovation/ It's my world/ That I want to have a little pride in/ My world/ And it's not a place I have to hide in/ Life's not worth a damn/ 'Til you can say/ I am what I am…”

 

Eu poderia estar escrevendo essa coluna de hoje com muita raiva, ao invés de toda essa alegria, festa e orgulho. “Por quê?” Talvez vocês queiram saber. Porque nesses últimos dez dias eu tive que legitimar minha existência por duas vezes. “Como assim?” Peraí que conto tudo!

 

Ser uma pessoa Trans/Travesti não é fácil em lugar nenhum, isso não é novidade, mas é terrível que você, enquanto pessoa Trans/Travesti tenha que estar o tempo todo lembrando às pessoas que o pronome que se usa para mulheres Trans e Travestis é “ELA” (Nem tatuando na testa resolve, Linn da Quebrada já provou isso); é ter que lembrar que um nome MORTO, é um nome MORTO, e, portanto, você, pessoa Trans/Travesti deve ser chamada pelo seu nome VIVO. Eu estou viva e me chamo BIA CRISPIM.

 

“Ah, mas seu nome não era OUTRO? Quando conheci você te chamava de OUTRO. Me acostumei a chamar você assim de OUTRO.” Esse foi um dos episódios em que, mesmo eu dizendo que não era chamada por outro nome além de BIA CRISPIM, a criatura continuou repetindo o nome MORTO. Mandei à merda! Saí de alma livre e com uma pessoa a menos na minha lista de “pessoas que quero perto e que valem à pena conviver porque me respeitam”, porém, chateada. Triste pela incompreensão e decepcionada pela ruindade (não há outro nome para o que eu senti enquanto a pessoa falava).

 

Qual era a intenção dessa pessoa se não apenas me machucar, se não para dizer que eu não sou quem sou? Se não para me dizer que ela não me reconhece como BIA CRISPIM, e portanto, não legitima minha feminilidade, não reconhece a MULHER que sou? Ruindade! Esse é o nome! Intolerância, desumanidade, preconceito, incompreensão, falta de tato ou de bom caráter... Chame como quiser. Eu chamo de ruindade.

 

No segundo episódio, a mesma ladainha. Meu nome Bia Crispim está no meu armário, no livro de ponto, no horário, na forma de tratamento de todos/as/es com quem trabalho, do alunado, passando pelos pais/responsáveis, gestão, funcionárias terceirizadas, demais colegas de trabalho... e, do nada, uma pessoa vem me chamar por um nome que ela não ouviu, não leu, não viu ser pronunciado nem dirigido a mim hora nenhuma, em lugar nenhum naquele espaço. O que pensar? Ruindade...

 

Dessa vez, só tirei da lista. Mas gostaria de dizer a qualquer pessoa que tenha contato comigo e que queira mantê-lo... Muito prazer, me chamo BIA CRISPIM; I’m BIA CRISPIM; Soy BIA CRISPIM; Je m’appelle BIA CRISPIM; Mi chiamo BIA CRISPIM; Mein Name ist BIA CRISPIM... E não vou atender ninguém por outro nome que não seja esse: BIA CRISPIM. NINGUÉM! – repito.

 

Minha estratégia será ignorar. Fazer de conta que não ouvi. Afinal, não é comigo mesmo. Se me chamar por outro nome que não seja o meu... Vai ficar no vácuo. Pois bem... Encerro a coluna de hoje com mais um trecho da música eternizada por Gloria Ganyor, lembrando que eu sou quem sou, com ou sem o aval de quem quer que seja. E deixar claro uma coisa, quando você não legitima minha existência e tenta me constranger me chamando pelo masculino ou pelo nome MORTO, isso diz mais sobre você do que sobre mim... Não preciso de desculpas para ser quem sou, como diz a canção, pois sou a melhor criação de mim mesma.

 

“I am what I am/ And what I am needs no excuses/ I deal my own deck/ Sometimes the aces sometimes the deuces/ It's one life and there's no return and no deposi/ One life so it's time to open up your closet/ Life's not worth a damn 'til you can shout out/ I am what I am…”

 

E se alguém achar que isso é prepotência, eu chamo isso de ORGULHO.

“I am what I am...”

 


*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).