Wellington Duarte

06/08/2022 00h00

 

Eleições para deputados federais : mais do mesmo?

 

As recentes pesquisas com intenção de voto para deputado federal, no Rio Grande do Norte, não trouxeram surpresas e repete o mesmo padrão de votações anteriores. Cerca de 56,0% dos entrevistados não têm nenhum nome em mente, ou seja, de cada 10 eleitores, 6 não decidiram em quem votar. Dos 8 nomes mais citados, estão 2 declaradamente progressistas e ambos do Partido dos Trabalhadores (PT), Fernando Mineiro e Natália Bonavides, e os 6 restantes repente a modorrenta paisagem política dessa taba.

A bolsonarista convicta Carla Dickson; o insosso Kelps Lima; o eterno camaleão Garibaldi Alves; o jovem representante do clã Rosado, Beto Rosado; mais um militar, vindo do Oeste, subcomandante da Polícia Militar, o “major” Brilhante, autodeclarado “conservador e de direita”; e o conhecidíssimo Paulinho Freire. Completa o quadro de 10 mais citados, o “general” Girão e o presidente da Câmara Municipal de Mossoró, Lawrence Amorim (ex-prefeito de Almino Afonso).

Nenhum surpresa, de fato, posto que essa “nominata” tem consonância com a história política local, herdada do coronelismo, servilismo e caciquismo. De todas as 10 candidaturas mais citadas, pelo menos 3 são uma “novidade” (ou não). O “major” Lawrence é uma incógnita, mas já é interessante observar que sua candidatura, abraçada pelo fisiológico PP, que sustenta o Mandrião, já diz muito. Lawrence está muito bem integrada no sistema e Bonavides já mostrou que se adaptou ao status quo.

É fartamente conhecido que o elemento que permanece presente é o dinheiro. Todos sabem que o sistema político e eleitoral vigente nesse país é completamente deformado pelo singelo fato de que quem tem acesso a recursos financeiros, tem muito mais vantagem em se eleger. Quem está integrado no sistema de poder, e não falo apenas de governo e partidos, tem muito mais possibilidade em se eleger. E num estado pobre como é o RN, onde os recursos públicos são fundamentais para qualquer ação política, os que detém o poder do orçamento, podem ter um diferencial competitivo que torna a eleição uma competição desigual.

Desde que a república foi proclamada, em novembro de 1889, que o cargo de deputado federal vem servindo para a consolidação de poder das famílias e agregados e no RN não foi diferente. A Constituição de 1988 possibilitou que os deputados federais se tornassem cada vez mais decisivos para a “governabilidade” e agora vemos que o presidente da república, um loroteiro, está completamente aprisionado pelos deputados federais e seu mandato termina melancolicamente.

É importante observar que dentre os 20 mais citados, só Mineiro e Natália tem perfil progressista e obviamente que no processo eleitoral, os 56,0% que ainda não se decidiram serão tentados a votar “em qualquer um”, como geralmente se diz, ou, pior, dar o “voto de ocasião”, que é aquele voto cooptado por dinheiro, por amizade ou por compadrio, resultando numa representação conservadora e atrasada.

Não se muda um cenário político sem quebrar o passado. Mas para “quebrar o passado” é exigido que se tenha partidos progressistas organicamente fortes e financeiramente “possíveis”, ou seja, sem organização e militância comprometida, os votos progressistas continuarão a ser insuficientes para mudar o cenário.

 

 

 


*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).