GAVETAS ABERTAS
Hoje, mexendo em minhas gavetas encontrei um caderno com coisas rabiscadas, inacabadas, escritas e reescritas páginas e páginas seguintes... Escolhi alguns, na verdade três, dos poemas que as gavetas e suas bocas abertas me ofertavam para compartilhar com vocês, leitores. Resolvi também reservar uma das postagens da coluna de cada mês para dar espaço à poesia. Jornais precisam de poesia, o ser humano precisa de poesia, sobretudo nos tempos em que vivemos.
1. ORIGAMI
Hoje aprendi a fazer pássaros de origami
Mágico o papel dobrar-se
E num instante...
Asas e voo...
Voaram da minha quina
Do vinco da minha mão
Ganharam bico, calda e asas
Asas que se dobraram
E encheram-se de leveza e movimento
Desprenderam-se do papel...
Criaturas de liberdade
De fascinante voo
Voaram de mim
Voaram em mim
Dobrei-me
Marquei-me
Vinquei-me
Voei
Virei pássaro e ganhei o mundo
"O mundo é grande e pequeno"
Hoje aprendi a fazer pássaros de origami.
Hoje aprendi a voar...
E perdi-me em mim mesma.
2. O CORPO
O corpo não fala mais
Calou-se
Quietou-se
Trancado numa crisálida
Inerte e sem pulso
Cataléptico
Hiberna.
Espera o ímpeto
O choque
A epifania
O estímulo de uma mão
De uma boca.
O pulso.
Não mais dialoga
Não mais se mexe
Não mais se atreve.
Sonha e dorme.
Abre o olho vez em quando
Apenas para odiar a luz.
E no breu íntimo
Da sua (in)consciência
Ele respira sua própria paralisia
Estático.
Consumindo e consumido
De vazio
De paz
Espera no seu despertar
Borboletar-se.
3. UM CISCO NO OLHO
O vento assanha meus cabelos
E sinto o seu cheiro nele
Encho meus olhos de lágrimas
O vento pôs um cisco neles.
*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).