Bia Crispim

22/07/2022 09h17

GAVETAS ABERTAS

 

Hoje, mexendo em minhas gavetas encontrei um caderno com coisas rabiscadas, inacabadas, escritas e reescritas páginas e páginas seguintes... Escolhi alguns, na verdade três, dos poemas que as gavetas e suas bocas abertas me ofertavam para compartilhar com vocês, leitores. Resolvi também reservar uma das postagens da coluna de cada mês para dar espaço à poesia. Jornais precisam de poesia, o ser humano precisa de poesia, sobretudo nos tempos em que vivemos.

 

1. ORIGAMI

Hoje aprendi a fazer pássaros de origami

Mágico o papel dobrar-se

E num instante...

Asas e voo...

Voaram da minha quina

Do vinco da minha mão

Ganharam bico, calda e asas

 

Asas que se dobraram

E encheram-se de leveza e movimento

Desprenderam-se do papel...

Criaturas de liberdade

De fascinante voo

Voaram de mim

Voaram em mim


Dobrei-me

Marquei-me

Vinquei-me

Voei

Virei pássaro e ganhei o mundo

"O mundo é grande e pequeno"


Hoje aprendi a fazer pássaros de origami.

Hoje aprendi a voar...

E perdi-me em mim mesma. 

 

2. O CORPO

O corpo não fala mais

Calou-se

Quietou-se

Trancado numa crisálida

Inerte e sem pulso

Cataléptico

Hiberna.

 

Espera o ímpeto

O choque

A epifania

O estímulo de uma mão

De uma boca.

O pulso.

 

Não mais dialoga

Não mais se mexe

Não mais se atreve.

 

Sonha e dorme.

Abre o olho vez em quando

Apenas para odiar a luz.

 

E no breu íntimo

Da sua (in)consciência

Ele respira sua própria paralisia

Estático.

 

Consumindo e consumido

De vazio

De paz

Espera no seu despertar

Borboletar-se.

 

3. UM CISCO NO OLHO

O vento assanha meus cabelos

E sinto o seu cheiro nele

 

Encho meus olhos de lágrimas

O vento pôs um cisco neles.


*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).