Evandro Borges

22/07/2022 09h11

Mais Mises, a nova direita do Brasil

 

Em face da aproximação das eleições vindouras, passei com mais veemência a curiosidade para compreender o fenômeno das eleições presidenciais passadas, se era apenas uma onda eleitoral ou existia uma base política e sociológica para o resultado do surgimento de uma corrente política de direita organizada, que ajudou a eleger o Presidente da República e uma verdadeira transformação das bancadas partidárias do Congresso Nacional, carregadas de ultraliberais, neoliberais, conservadores e de bolsonaristas.

 

Confesso que fiz diversas leituras, algumas muito bem postadas e acompanhando os debates nas mídias sociais, mas um livro me chamou atenção ultimamente. A obra da autoria de Camila Rocha, doutora da Associação Brasileira de Ciências Políticas e tese de destaque pela USP, publicado pela editora todavia, com o título “Menos Marx, Mais Mises”. O liberalismo e a nova direita do Brasil”. O livro é de 2021, na primeira edição.

 

Impulsionado para conhecer as razões políticas da atualidade encontrei o título referido, publicado pela editora todavia, uma editora nova, fundada em 2017 com sede em São Paulo, que publicou o livro “Torto Arado” de autoria de Itamar Vieira Júnior, de excelente qualidade, e alcançou o status de ”best seller” em 2021 no Brasil, foi mais um credencial e já recomendado pelo livreiro Francisco Dantas da Távola Livraria mergulhei na gostosa e fácil leitura da escrita de Camila Rocha.

 

A autora Camila Rocha doutora pela USP precisou se mudar de São Paulo para o Rio de Janeiro, e conseguir ter acesso e ser aceita para efetuar a pesquisa de natureza científica que desejava no Instituto Liberal sediado no Rio de Janeiro, embora sendo de esquerda.  O primeiro momento decisivo foi o encontro com o Presidente do Instituto Bernardo Santoro, um jovem que entabulou uma conversa franca e levou para conhecer a sede localizada na Cinelândia, no Edifício Rex, um local simples em que teve acesso a documentos e efetuou as primeiras entrevistas com as pessoas que ali trabalhavam e eram integrantes da militância de direita.

 

O título do livro faz referência a Ludwing Von Mises, economista austríaco, ultraliberal, ideólogo do mercado livre, se tornou um dos símbolos e respeitado da nova direita. No livro de Camila há uma citação a tradução e formação de ciclo de estudo no Ceará com a obra denominada A ação humana de Mises. O Instituto Mises presidido por Hélio Beltrão oferecia curso de pós graduação sobre economia austríaca e contou com a matrícula de Eduardo Bolsonaro. Desta maneira o nome de Mises tomou o título da obra como um dos ideólogos do livre mercado, dos ultraliberais e da nova direita.

 

A narrativa inicia aludindo à direita envergonhada, logo após a queda da ditadura e o pacto de 1988, com o aparecimento dos think tanks de inspiração americana, que seriam sociedades secretas, que disseminavam a defesa da propriedade privada e a liberalização da economia, como é o caso do Instituto Liberal do Rio de Janeiro. A maioria das pessoas que transitavam nestas organizações eram acadêmicos, especialmente economistas e empresários.

 

Iniciada a leitura, os leitores passam a conhecer as raízes históricas desde os ideólogos de período da ditadura como Roberto Campos, Ives Grandra Martins, Paulo Ayres, o professor universitário Ricardo Vélez Rodrigues (Primeiro Ministro da Educação do Governo Bolsonaro), Otávio Gouveia de Bulhões e chegam aos grupos de Orkut formadores de opinião que fortaleceram as ideais do mercado livre e liberdade, citando ainda Paulo Guedes, Paulo Batista, Adolfo Sachida até Olavo de Carvalho.

 

Os livros circulantes das ideias liberais: A Revolta de Atlas, as revistas Reader’s Digest, a encíclica papal de João XXIII – Mater e Magistra, a Utopia Igualitária: Ativismo da dignidade humana, A consciência conservadora no Brasil, História das ideias filosóficas no Brasil, a revista Visão e os mais recentes, tais como: O jardim das aflições; O imbecil coletivo; Esquerda Caviar: A hipocrisia dos artistas e intelectuais progressistas no Brasil e no mundo; O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota; Democracia e direito na era da nova propaganda política e das fake News., dentre outros.

 

É importante frisar, que faz alusão as organizações, desde a TFP, o Endireita Brasil, os institutos liberais, o Instituto Millenium (IMIL), Estudantes pela Liberdade (EPL), o Grupo Martins do Estado do Espírito Santo, o coletivo nas Ruas, o MBL e os Partidos que abrigam a nova direita. O PSC, o Partido Novo, o PSL e os Patriotas que era o PEN e se preparou para receber a filiação do Presidente, que não deu certo e o Partido Liberal. 

 

Em seguida, antes das considerações finais articula uma narrativa do impedimento da Presidente Dilma, as grandes mobilizações de 2013, as campanhas contra a corrupção, o desgaste do PT, as controversas no âmbito da direita, e as mobilizações que contou com participação decisiva do MBL. Para finalmente demonstrar a capacidade eleitoral. A bancada do PSL e os nomes consagrados da direita brasileira que foram eleitos.

 

A leitura da obra realizada por Camila Rocha deve ser incluída como necessária, para compreender melhor o quadro político e o ideário econômico em que o país está envolvido. O livro não é contra e nem a favor. De fato é uma verdadeira constatação dos acontecimentos de modo histórico e com muita substancia. É uma leitura para todos as dimensões políticas, e inclusive para os tolerantes e pluralistas tomarem conhecimento e apreender.          

 


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