Eliade Pimentel

11/07/2022 11h49

 

Coração partido e alma lavada – será a menopausa?
 
 
Eu ando numa fase emotiva, apaixonada por tudo que tenho – isso inclui além da minha família e meu amor, os meus amigos e minhas amigas, meus livros, meus lares, meus bichos. Tenho estado mais aguerrida do que nunca para lutar por meus ideais. Ao mesmo tempo, sinto-me fragilizada, física e emocionalmente. Tenho escrito meus textos, sejam meus “devaneios” das segundas-feiras para este portal, quanto os materiais da secretaria de agricultura familiar e os factuais da cultura, com uma canga no colo, para enxugar as lágrimas incontidas. 
 
Ao conversar outro dia com uma de minhas irmãs, ela perguntou, brincando, no sentindo de eu abaixar o tom da voz: “está brigando com quem?”. Eu estava falando alto, com aquele jeitão de discussão que é meu estilo mesmo. O negócio é que tenho espírito justiceiro e ando muito irritada com boa parte da sociedade – capitalista, por assim dizer, que acaba com as coisas, que entope bueiros, que produz lixo indiscriminadamente, que destrói mares, rios, fecha acesso a praias e depois culpa a natureza pelos desastres. 
 
Além disso, tem a parte machista, violenta, que não dá às mulheres nem um minuto de sossego. Para fazer qualquer coisa em casa, a mulher solteira tem que levar cantada de homens idiotas. Não aguento mais ser tratada como objeto.  Tudo é mais difícil para nós, é um absurdo dizer o contrário, e quando relatamos os desafios diários pelos quais passamos, ouvimos até mesmo em família que não passa de mimimi. Ouço quase que diariamente conselho para denunciar, levar adiante nossa indignação. Mas, vamos viver de registrar Boletins de Ocorrências?
 
Como, se até em casa ouvi uma sonora ameaça: “você está merecendo umas tapas” por eu ter me exaltado ao reivindicar uma parte do terreno a qual considero mais justo para mim e minha filha, por ser mais próximo da avenida. E assim, tenho estado, por um lado me sentindo fortalecida por fazer meu trabalho e ser reconhecida de várias formas. Por receber elogios advindos de todos os lugares, de pessoas diversas, do meu chefe, de colegas que trabalham no governo, de contatos que recebem meus materiais pelas listas de transmissão. 
 
De modo que tenho me sentido realizada por escrever meus textos, os quais têm servido bastante para expressar meus ideais de luta e de perseverança, além de serem meios de divulgação de artistas e de louváveis iniciativas potiguares. No entanto, estou me sentindo fraca, precisando de apoio para resolver situações corriqueiras, como a organização da chácara para que possamos utilizar melhor nossa terra herdada dos pais, um dos remanescentes dos quintais originais de Pium. Tenho proposto inclusive uso de modo compartilhado, porém as coisas estão difíceis para todos e todas e ninguém aderiu às minhas ideias, por enquanto. 
 
Ao mesmo tempo em que estou apaixonada pela vida que eu tenho, estou de coração partido. A alma lavada de tantas lágrimas denota um espírito em desassossego. Não sei aonde quero ir, tampouco quero sair do lugar. Apenas tenho a certeza de que as coisas estão indo depressa demais, de modo que mal consigo organizar meus pensamentos hoje, e o amanhã já chegou correndo. Cheio de tarefas a cumprir. Só sei que preciso manter a calma, a espinha ereta e o coração tranquilo. 
 
E para isso, seguindo conselho da irmã, devo procurar ajuda médica, pois ela deve estar me deixando inquieta e sem ação. A danada da menopausa. Vou ver por onde começar. Oxalá dias melhores virão.
 
 

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