Eliade Pimentel

20/06/2022 15h11

Feira Nordestina consolida democratização da comunicação

 

Comunicadores e comunicadoras também têm suas bandeiras de luta e a principal da época em que entrei no curso de Comunicação Social, com habilitação jornalismo, na Universidade Federal do Rio grande do Norte (UFRN), em 1993, era a democratização da comunicação. Eu, que nunca havia militado em movimento estudantil, fui impelida à luta ao me deparar com as portas fechadas do nosso Centro Acadêmico Berilo Wanderley. Arregacei as mangas, juntei-me a uma pequena turma aguerrida e reabilitamos o CA.

 

No mesmo ano, percorri várias cidades do Brasil em reuniões, congressos e encontros organizados pela Executiva Nacional dos/as Estudantes de Comunicação (ENECOS), que não por acaso completa 30 anos no dia 18 de julho deste ano. No seu perfil do Twitter, encontrei essa justificativa sobre a idade da entidade: “É importante ressaltar que apesar de sua idade jovem, a ENECOS existe em espírito desde o primeiro encontro nacional de estudantes de comunicação social (ENECOM) realizado em 1972, plena ditadura militar”. 

 

Outro post cita as bandeiras de luta, fato que confirma o que estou a relatar nesse espaço: “A executiva trabalha a partir das nossas chamadas bandeiras de luta que são: a Democratização da Comunicação, a Qualidade de Formação do Comunicador Social e o Combate às Opressões”. Por conta disso é que recebíamos a orientação de procurar os núcleos de processamento de dados das universidades para que pudéssemos nos comunicar em tempo real, nos primórdios da internet, que ainda era usada somente em modo corporativo e o acesso era muito restrito.

 

A ideia era exercer ao máximo nosso direito à comunicação em tempo real, de modo a facilitar a socialização dos conteúdos num tempo em que usávamos os correios para troca de material. Hoje, sinto-me realizada e muito grata por ter coordenado a comunicação da 1ª Feira Nordestina da Agricultura Familiar e Economia Solidária, uma iniciativa do Consórcio Nordeste, executada pelo Governo do RN por meio de vários órgãos, tendo à frente a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Rural e Agricultura Familiar (SEDRAF), em co-realização com a União das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária (Unicafes-RN).

 

A definição de que a primeira FENAFES seria realizada em Natal-RN, no período de 15 a 19 de junho de 2022, ocorreu nas plenárias da Câmara Temática da AF (articulada pelo Consórcio Nordeste) e do Fórum de Gestores(as) da AF no Nordeste, realizadas em Salvador (BA) durante a 12ª Feira Baiana da Agricultura Familiar e Economia Solidária. A primeira reunião, realizada sob a liderança do secretário Alexandre Lima para definirmos tarefas e iniciarmos o processo de execução deste grande sonho coletivo, ocorreu no final de janeiro de 2022, quando fui designada coordenadora de comunicação do evento.

 

Um posto nato, uma vez que sou assessora de comunicação da secretaria. Na hora, senti o peso da responsabilidade, mas fui demonstrando certa tranquilidade mesmo não tendo certeza de nada, sequer da segurança de termos uma agência contratada para fins de criação da identidade visual e sinalização da feira.

 

No início, tivemos uma contribuição da equipe da EMATER-RN, mas o designer que começou o processo teve que se desligar da instituição e perdemos nosso diretor de arte. A partir de então, fizemos tudo em casa, com uma equipe a qual chamo de tripé: eu, a jornalista, o diretor de artes Eduardo Morais, que presta serviço ao órgão e precisou conciliar esse trabalho com as 1001 demandas para as quais foi contratado, e o outro fiel escudeiro, Yuri Soares, estudante de publicidade da UnP, que dá suporte às redes sociais e à criação de artes e edição de vídeos, e é nosso estagiário supervisionado por mim.

 

Fui adicionada a um grupo de comunicação do Consórcio Nordeste, mas senti necessidade de me comunicar com colegas das pastas estaduais de agricultura familiar do Nordeste. Criamos o e-mail e as redes em março, e o grupo foi criado em abril. A partir de então, fomos agregando colegas que atuam nos movimentos sociais (fato que confirmou o fator democrático do processo), e articulamos que todas as atividades da feira seriam cobertas por todas as equipes disponíveis, visto que mesmo com reforço de repórteres das pastas do Governo do RN eu não teria como garantir cobertura das dezenas de atividades formativas da programação, tanto as que foram definidas pelo comitê geral da feira, como as demais, chamadas de  autogestionadas.

 

Definimos que todas as coberturas das equipes participante do grupo seriam compiladas e consideradas como oficiais, e trabalharíamos com o propósito de divulgar as politicas públicas implementadas pelos estados do Nordeste para fortalecer o setor, responsável pela produção de pelo menos 70% dos alimentos saudáveis que chegam á mesa da população brasileira. Mas, articulamos também que nosso trabalho teria o intuito de contribuir para a divulgação do valor da agricultura familiar como fator agregador de estilo de vida saudável, considerada uma busca real por boa parte da sociedade.

 

A primeira iniciativa de socialização do conteúdo diz respeito à identidade visual da feira. Ajudamos movimentos que não tinham equipe a fazer seus convites, e compartilhamos nossos drives contendo os materiais para todo mundo que usou à vontade, do logotipo da feira, às artes das peças que criamos. De modo que atingimos nosso objetivo e pontuamos um verdadeiro caso de sucesso, o qual ainda está em processo de compilação. Coordenar todo esse processo antes e durante os cinco dias do evento foi desafiador e muito exaustivo, até porque tive de desempenhar a função de direção de criação de tudo, da lembrancinha aos pórticos de entrada, além dos conteúdos jornalísticos propriamente ditos.

 

Mas, foi extremamente gratificante estar à frente de um verdadeiro caso de sucesso. Caminhar pela feira e ver nossa identidade até nos pequenos detalhes me dava uma sensação gostosa, um verdadeiro luxo. Sem a colaboração e até a compreensão de todos e todas (por tantas perguntas sem respostas), esse sonho não seria possível. E ainda tivemos a valiosa contribuição da equipe do projeto Vozes do Semiárido, realizado pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), que se destacou da cidade de Mossoró (RN) com a presença de dois professores, um cinegrafista (TV UERN) e cinco estudantes.

 

Agradeço a todas as pessoas envolvidas, todas as pastas que atuaram na cobertura, tanto as do Governo do RN, como as dos demais estados presentes, às assessorias do Consórcio Nordeste (leia-se Alexandra Vieira, que arrasa muito com seu dinamismo), ASA Brasil, Rede Ater Nordeste, MST, FIOCRUZ, Fundação Araripe e os mandatos populares presentes (Isolda Dantas, Divaneide Basílio e Brisa Bracchi), e tantas outras equipes presentes, bem como a vasta cobertura dos veículos de comunicação. O sucesso da 1ª Feira Nordestina se deve à gestão integrada desta coordenação, fato que para mim simboliza meus quase 30 anos de luta pela democratização da comunicação. 

 

Valeu o sonho, valeu a luta, e vamos que vamos continuar nosso propósito de contribuir para dar amplitude ao valor que a agricultura familiar tem. Não perca nada desta linda história. Siga o perfil @fenafes_agricultura familiar no Instagram porque ainda vamos postar bastante conteúdo.


*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).