Eliade Pimentel

30/05/2022 14h50

 

Ao amigo que não suportou o “loop” do “after” 
 
 
Jovem, amado pela família, pela companheira e por uma legião de amigos e amigas. Pai de uma menina e de um menino. Não suportou o dom que é viver. Estou ainda em choque, com tantas outras pessoas de Baía Formosa (RN), que mais uma vez é surpreendida pela ingrata notícia de que uma pessoa na chamada flor da idade deu cabo de si. Sabíamos que aquele rapaz não estava bem. Nada podíamos fazer, pois “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”. 
 
Nas festas, sempre era um dos mais animados. Gentil, com seu olhar de manhãs de domingo, não negava fogo a quem o desafiasse a curtir a vida. Sempre adoidado.  O que o deixou tão baratinado, a ponto de não saber qual caminho seguir, a não ser, o caminho que o levou para a eternidade. E assim, tenho me perguntado. O que estamos esperando dos jovens que vivem numa cidade tão linda como BF, mas que não se vive só de festas? Como alertar que depois de um final de semana, tem uma segunda que nem sempre é dominguinho? 
 
Como preparar a juventude para enfrentar a semana apertada que existe depois de um feriadão? Ou a aceitar o “after” de uma estação plena de verão, em que nem sempre as chuvas limpam todas as cinzas acumuladas em três meses de curtição. A juventude em Baía Formosa não vai mais com frequência à Mata Estrela, como era antigamente. Se houvesse esse fluxo, moças e rapazes poderiam ser guias ambientais. Poderiam estar engajados com esse destino, que é turístico pela própria natureza.  
 
Uma cidade vocacionada para o surf – e outras práticas desportivas ligadas à natureza - somente há pouco tempo está acordando para transformar todo esse potencial em geração de trabalho e renda. Ainda assim, o mercado deveria estar bem melhor posicionado. Falta muito para que alcancemos uma dinâmica saudável em Baía Formosa e em outras cidades litorâneas, onde se acostumou com a ideia vã de que as pessoas são mal acostumadas e não querem trabalhar. 
 
Falta muito mais coisas acontecerem, muitos projetos serem executados, muita gente arregaçar as mangas para mostrarem aos jovens adultos na idade de Ivinho que não se sintam perdidos, sem saber para onde correr. Falta tanto ainda para que as pessoas como ele aprendam a discernir que, logo após a noite acabar, em seguida vem um amanhecer cheio de cobranças. E que essas pessoas precisam estar fortes, preparadas e com a autoestima cheia de gozo. 
 
Sim, precisamos dar valor ao que os nossos jovens têm de melhor. Temos tantos jovens em BF que são ótimos guias. Que sabem lidar com quem vem de fora. Que seja isso então valorizado. Mais uma vez, bato na mesma tecla. Baía Formosa tem que receber tratamento de cidade turística. Tem que tratar suas potencialidades como potenciais para o mercado de trabalho, que absorva bem as moças e rapazes, tão bem educados por suas famílias e mestres. 
 
Sobre ele, passamos uma noite inteira conversando, na Semana Santa, e tenho a convicção que era isto o que o afligia, ele não aprendeu a separar o ócio e o que podemos chamar de vida real produtiva. Nem todos os seres humanos estão prontos para levar uma vida insana. A história vive nos mostrando gente jovem que se foi de diversas maneiras. A Kathlen, meu abraço e minha admiração. Não leve consigo a culpa de não poder ajudar. Somos humanos e, portanto, falhos. 
 
Aos jovens e às jovens que se encontram em situação de caos interior, peçam ajuda. Nada é tão importante como a sua dor. E tão valioso como a sua vida. 
 

 


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