Bia Crispim

13/05/2022 10h28

 

HPV E PORTUGUÊS... PODE?!

 

Sou professora de língua portuguesa da rede básica de ensino do Estado e no começo dessa semana pedi que os/as adolescentes de uma turma de 9º ano fizessem uma pequena pesquisa sobre HPV e Meningite C. A partir dos dados coletados dessa pesquisa, iniciaríamos o estudo de conhecimento e produção de três gêneros textuais ao longo do bimestre, a saber, mapa mental, resumo e seminário.

 
Qual não foi minha surpresa quando uma aluna, enquanto conversávamos sobre os dados e os resultados encontrados na pesquisa realizada por eles, me perguntou: Bia, o que que tem português com HPV? Aí eu respondi com uma sequência de perguntas: De que maneira você ficou sabendo que o HPV é um vírus? Como você sabe o que ele causa? Como você encontrou as informações que você buscava no Google? Não foi usando a língua portuguesa?
 
Resultado: um rostinho brilhante e um sonoro “AAAAHHHHH! É meeeesmo!” Completei minha fala com: O português está em todo lugar e é por meio dele que discutimos, pesquisamos, pedimos, produzimos mensagens de Whatsapp, sabemos sobre as doenças, descobrimos como nos prevenir delas... Enfim... Acrescentei ainda que o tema acerca de algumas DST’s/IST’s que estava abordando na aula de português serviria para darmos o pontapé nos conteúdos do 2º bimestre e que esse assunto tão importante, além de dizer respeito à saúde das pessoas, tem uma relação direta com pessoas da idade deles, cujos hormônios consomem o juízo e, às vezes, os colocam em ciladas... 
 
Fiquei feliz em perceber a ficha cair pra turma, fiquei feliz em constatar que ter abordado um assunto de saúde para iniciar o bimestre não foi um tiro errado, pelo contrário. A galerinha soube falar um bocado sobre o HPV e a meningite C, trouxeram informações importantes sobre e ainda acrescentaram dados acerca de outros problemas de saúde ligados à temática DST’s/IST’s. E o mais fantástico, a defesa que fizeram das vacinas (HPV e meningite C possuem cobertura vacinal) e a preocupação com relação às formas de prevenção. As duas aulas voaram...
 
Cheguei em casa tomada de ideias e vi que o assunto poderia me render muito mais que estudos de gêneros textuais, muito mais que aulas de língua portuguesa (gêneros de texto, questões comunicativas, aspectos estruturais da língua)... As aulas desse bimestre estarão interseccionalizadas com temas ligados à saúde, à cidadania, à prevenção de DST’s/IST’s, à gravidez na adolescência, à prevenção da gravidez precoce, aos impactos sociais na saúde da população, aos impactos sociais quanto ao gênero... Ihhhhhhh... Já estou vendo um final de bimestre com seminários riquíssimos. 
 
Termino essa coluna de hoje, convidando você, leitor/a/e dessa página, a pensar em algumas questões (duas perguntas e duas assertivas) que certamente vão mexer comigo ( e que podem mexer com vocês, também) nos próximos dias: 
  • O que tanto podemos conhecer/saber/aprender quando dominamos uma língua?
  • O que podemos produzir enquanto saberes e enquanto expressão (escrita ou oral) do nosso pensamento através da língua?
  • A aula de português pode ser aula de tudo. (Inclusive tratar de temas considerados tabus). Afinal a língua perpassa por todas as áreas de conhecimento.
  • A escola precisa falar abertamente, e sem medo, sobre cidadania, direitos e deveres, saúde, sexualidade, racismo, diversidade, questões sociais, política...
 
Que a escola seja o lugar de assombros, como diz Rubem Alves.
 
 

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