Fábio de Oliveira

14/03/2022 09h29

 

A ajuda humanitária também é um ato político

Basta chover por alguns minutos para a cidade tornar-se um caos. Ruas alagadas, casas ilhadas, trânsito caótico, aparelhos eletrônicos danificados e mais uma série de transtornos que acabamos normalizando e as gestões públicas também. Mas muitas dessas adversidades são consequências da ação humana e é importante parar para avaliar os contextos sociais e geográficos em que as pessoas vivem. Para tanto, não precisa ser um especialista no assunto, basta apenas enxergar como cidadão empático e pensar no bem coletivo.

Semana passada, minha esposa e eu fomos ao abrigo onde estão algumas famílias Warao e nos deparamos com uma cena incomum. O local estava muito úmido, cheio de objetos nos corredores e várias mulheres levando roupas para secar ao sol. Logo, lembramo-nos das fortes chuvas que antecederam nossa ida ao espaço, então, perguntamos à liderança da família como passaram esses dias chuvosos.

As cenas gravadas e mostradas pelo dispositivo móvel da liderança Warao do abrigo, Misael, causaram-nos um choque. Como se já não fosse bastante a situação de vulnerabilidade dos parentes do abrigo, com poucos alimentos e materiais de limpeza, e uma estrutura precária que é chamada de ‘abrigo’. As salas, corredores e pátios do abrigo ficaram inundados; consequentemente, tiveram a perda de alimentos e outros itens que lá havia. Além das perdas materiais, gerou-se uma aflição por não saberem como seria passar mais um dia nestas condições. 

A situação nos deixou estagnados e pensativos sobre como poderíamos mobilizar a sociedade para que, de alguma maneira, os parentes Warao recebessem ajuda. Desta forma, reforçamos uma campanha de arrecadação de recursos iniciada dias antes desta visita em que nos foi relatado e mostrado o transtorno no local após as chuvas. A ideia da arrecadação visou a aquisição de materiais necessitados pelas famílias Warao, tais quais alimentos, materiais de limpeza, higiene pessoal dentre outros itens.

Utilizar nossos contatos e redes sociais tem sido a única alternativa para mobilizar as pessoas para causas como a das famílias Warao. A visibilidade dessa mobilização poderia ser maior, se não fosse os algoritmos destas mesmas redes, que ocultaram as postagens. Mas isso não é o suficiente; a sociedade e o poder político local precisam se interessar de forma genuína. Não destaco somente as famílias Warao nesse texto, mas também as comunidades periféricas de Natal que passam pela mesma ocasião.

Exercer política na sociedade não se limita apenas ao período eleitoral; exerce-se política diariamente por meio de ações que possam ser transformadoras na vida dessas pessoas, que estão à margem pela falta de um olhar sobre elas. Esse viés sobre política nas urnas, cristalizado pelo senso comum, precisa ser desconstruído. A partir do momento em que apoiarmos coletivamente para revertermos situações críticas como a dos parentes Warao e das comunidades periféricas, aí sim, exerceremos a política em nosso cotidiano.

PS.: Contribuições para as famílias Warao que estão no Centro de Acolhida e Referência para Refugiados, Apátridas e Migrantes (CARE/RN) podem ser realizadas por meio de transferência via PIX. Os valores arrecadados serão direcionadas para aquisição de alimentos, produtos de limpeza, higiene pessoal, material escolar dentre outros itens. PIX: 84998376368 (Fábio Pereira de Oliveira).

 

 

 

 

 


 


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