Liliana Borges

25/02/2022 11h33

 

SALINAS DE SAMOUCO, Salicultura a Biodiversidade…

As Salinas de Samouco estão situadas no Concelho de Alcochete a cerca de 39 km de Lisboa, aproximadamente, 5 km do Montijo. Atualmente é uma área de proteção e conservação do meio ambiente, onde o Estado expropriou 360 ha em decorrência da construção da Ponte Vasco da Gama, como também, instituiu a “Fundação para a Protecção e Gestão Ambiental”.

A Fundação tem o direito de usufruto por 30 anos relativo aos imóveis expropriados com finalidade de promover a conservação e manutenção das salinas, entre seus objetivos relevantes é o estudo, a implementação e gestão da aplicação prática de modelo socioeconômico do desenvolvimento sustentável no complexo, como também, a sensibilização e educação da população em geral sobre a matéria.

Esta semana conheci a localidade em companhia de meus alunos da disciplina de “Turismo” da Universidade Sénior do Montijo em atividade de campo “Visita de Estudo”, a qual tivemos a honra de sermos guiados pelo Sr. André Batista com seus vastos conhecimentos, pois é Técnico Superior responsável pela educação ambiental das salinas e especialista na conservação da natureza e ornitologia, ramo da zoologia que estuda as aves. 

O sal possui propriedades e componentes essenciais a sobrevivência dos seres vivos, sua importância  foi percebida  há cerca de dez mil anos na  altura do surgimento das primeiras comunidades rurais e, em diversos períodos da história influenciou a vida da humanidade considerado como símbolo religioso, poder, causa de muitos conflitos, conhecido como o “ouro branco”, inclusive foi moeda de troca em várias épocas que curiosamente na Roma Antiga os soldados recebiam como remuneração, “soldo”, dando origem a palavra “salário” em latim “Salarium”.

O Brasil possui uma das maiores reservas mundiais de sal que está localizada no Estado do Rio Grande do Norte, sendo o maior produtor do país, porém a produção em Samouco é artesanal resultando um produto de alta qualidade e, ainda, cabe ressaltar que não possui fins lucrativos, sendo revertido todos os recursos obtidos para a conservação do meio ambiente.

Nas Salinas de Samouco o sal quanto a sua origem ao produto final dizem que é “tal e qual”, pois vem da água do mar tal qual chega à mesa em virtude de sua produção ser realizada apenas por processos físico-químicos naturais: evaporação, concentração e precipitação, assim, mantém suas propriedades e qualidade.

O trabalho é duríssimo e minucioso, pois o salineiro vai puxando o sal aos poucos com um rodo, consequentemente a água contida nos próprios tanques vai limpando por camadas que é exatamente o que faz a diferença para tornar tão branco e puro, pois evita o contato com a lama e não adquire a coloração castanho ou cinza.

A “Flor de Sal” é uma preciosidade que se assemelha visualmente à nata que fica na superfície do leite quando aquecido, a exemplo de 120 toneladas de sal produzidos ao ano, na mesma safra somente consegue obter 1,5 de flor de sal. Seu processamento é delicado que com o auxílio do rodo raspa somente a superfície, colhendo com uma espécie de peneira. É utilizado na alta gastronomia para finalização de pratos, como também, para temperar saladas, grelhados, algo mais especial.

Portugal produz sal de excelente qualidade, mas nunca foi autossuficiente. Esta é a única salina ativa no Tejo e o maior produtor no país é o Algarve através de Castro Marinho, Tavira, Olhão, um pouco mais em Figueira da Foz, Aveiro, Rio Maior que é o sal-gema oriundo das minas. 

Curiosamente quando a salinidade é muito elevada se desenvolve uma microalga que se chama “dunaliella”, tem uma coloração laranjada ou rosada e daí há imagens espetaculares pelo mundo como os “pink lakes”, lagos cor de rosa, a exemplo do Canadá, Austrália e Quênia. São lagos de águas salgadas que desenvolve a microalga e o contraste com o sal formam paisagem belíssimas.

A biodiversidade é espetacular nesta região e o Estuário do Tejo é muito importante para aves como para os peixes que usam para desovar. Na época do Inverno 120 a 200 mil aves passam por lá, mas grande parte delas ainda vão à África, Guiné… 

Este local funciona como posto de combustível, param, alimentam-se e seguem. Elas migram do Sul para o Norte, algumas vão até a Sibéria, Groelândia e Alasca. No final de agosto e setembro começa a migração para sul e vão às áreas de nidificação, ou seja, locais de construir seus ninhos como a Islândia, Mauritânia, Sibéria... 

Os flamingos são considerados as mascotes das salinas que por sua beleza contribuem para que sejam muitos visitadas, no momento de nosso percurso havia um grupo de 107 indivíduos. Esta espécie se reproduz no sul de Espanha, sul de França, sul da Turquia e Itália e passam o inverno aqui. Em 2021 aconteceu a primeira niilificação registrada em Portugal no Algarve, em Baia Formosa, cerca de 500 flamingos fizeram lá seus ninhos e obtiveram sucesso. O mesmo ocorreu no estuário do Tejo, mas não houve eclosão. 

Salicultura a Biodiversidade harmonicamente é um espetáculo para nossos olhos…

 

Confira o vídeo sobre a matéria no meu canal no YouTube: LILIANA BORGES EM PORTUGAL

https://www.youtube.com/watch?v=qLJEq9Wcxko


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