Bia Crispim

21/01/2022 09h25

 

A HISTÓRIA DE TÁRTARO

Todas as pessoas que me conhecem pessoalmente, ou que me acompanham nas redes sociais, ou ainda as que somente me leem aqui na coluna do Potiguar Notícias sabem do amor que tenho pelos felinos. Sim, eu sou uma airulófila, uma gateira de plantão. E creio que essas mesmas pessoas sabem que tenho 11 felinos, sendo 6 resgates e 5 netinhos. 

Sempre amei gatos, mas, quando criança e adolescente, não os criava porque minha mãe não deixava. Durante a universidade até tive a experiência de criar alguns, mas eles acabavam doentes ou sumindo, visto que eu passava muito tempo fora de casa e acabava não cuidando deles como deveria. 

Quando comecei a trabalhar e viajar dando aulas nesse Seridó de meu Deus, não tinha tempo nem espaço. Só por volta dos 30 anos é que resolvi que deveria formar minha família felina. E não me arrependo disso. Tenham certeza!

O último resgate que fiz foi em 2017 quando, voltando do trabalho, me deparo com uma cena de um cachorro acuando um gatinho dentro de um cano de esgoto, desses que as pessoas colocam atravessando as rampas de descida de suas garagens. O gatinho tentava escapar por um lado ou pelo outro, mas o cachorro chegava primeiro. Vendo isso, espantei o cão e consegui retirar não o gato, mas a gatinha Athena (que fará 5 aninhos agora em maio).

Com 11 gatos em casa, a maioria adulta, eu encerrei meus resgates (mesmo com o coração partido). Primeiramente por que eles precisam de espaço, cuidados, carinho e atenção, depois por que a manutenção de 11 gatos não é barata (castração, vacinação, vermifugação, banho, escovação, corte de unhas, alimentação... Tudo demanda tempo e dinheiro.)

Porém, nesse domingo, retornando das minhas férias, antes de vir para casa, desembarquei na residência de meus pais. E assim que cheguei, minha mãe foi logo me dando a notícia de que há alguns dias ela vinha ouvindo miados agudos de um gatinho. E que no dia anterior ele havia aparecido, porém, que tinha se enfiado num buraco da calçada e desde então não conseguia mais sair. 

O sábado foi chuvoso, seus miados agudos foram ouvidos durante toda a noite sem ninguém saber o que fazer. Na manhã do domingo, alguns vizinhos conseguiram remover tijolos que permitiam ver as raízes da planta e os espaços entre a calçada e a encanação. Mas nada  do gatinho aparecer. No fim da tarde, enquanto minha mãe contava a história, ouvíamos os gritinhos do bebezinho felino e eu, com o coração apertado por não saber como resgatá-lo, e sem saber onde ele se encontrava naquele emaranhado de raízes, canos, pedras, restos orgânicos da planta... Enfim, naquele tártaro escuro, frio e sombrio resolvi tentar o resgate.

Em silêncio detectei o espaço possível em que ele se encontrava, depois posicionei o celular de ponta cabeça para fazer uma sequência de fotos dos pontos de onde ecoavam os miados mais fortes. As primeiras fotos não revelavam nada além do esperado: terra, canos, raízes... Porém, numa virada de ângulo, uma das fotos captou uma orelhinha. Foi aí que consegui posicionar o celular no ângulo exato, o que me permitiu capturar a imagem de um gatinho amarelo, não mais de um mês de vida, com o corpinho já todo soterrado pela areia úmida, só com a cabecinha de fora.

Os olhos, o nariz, as orelhinhas já estavam com um pouco de terra por cima. Não pensei duas vezes, enfiei a mão no buraco, me arranhado toda devido ao contorcionismo que tive que fazer, até conseguir segurar na lateral de sua cabecinha. 

E quando eu consegui retirá-lo dali, não tive dúvidas de que ele seria meu. Meu Tártaro. Meu 12° filhino (filho + felino). Meu novo amor. 

E onde está Tártaro agora? Tártaro está em casa, sendo muito amado e amamentado e esquentado numa mantinha azul que pertencia a meu pai e que minha mãe o presenteou. Meu medo de que os outros fossem rejeitá-lo já passou. As riscadas de fósforo só rolaram dois dias. Já ganhou lambeijos de uns, uns cocorotes de outros, o olhar atento de todos. No final das contas, entre Titãs, deuses da mitologia grega e personagens mitológicos, meu Olimpo é um  lar, uma lar de felinos e eu sou a mamãe gata. 

 

*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).