Eliade Pimentel

28/12/2021 12h06
 
O ‘paraíso’ das calopsitas
 
Passamos por várias casas utilizadas em sua maioria para veraneio e as grades recorrentes nos chamaram a atenção. É para ver o sol nascer quadrado? Não bastasse, entramos em uma rua estreita e, de longe, num sobrado igualmente engradado, avistamos uma placa na qual pensamos que estivesse escrita a seguinte frase: “o paraíso dos campistas”. Tão felizes, eu um casal de aventureiros declarados, voltamos a fim de olhar que paraíso era aquele para o pessoal que adora acampar, assim como nós.
 
Mas, a frase era na verdade “o paraíso das calopsitas”. Que decepção. Como assim, minha gente. Quer dizer que a pessoa enjaula um monte de pássaros e ainda chama esse ambiente sufocante de “paraíso”. Misericórdia. A ideia que eu tenho do olimpo é bem diferente. Gosto da liberdade de ir e vir e acredito que as aves e outros animais silvestres também. Na verdade, a ideia que me ocorreu ao tratar desse assunto é que o ser humano é mesmo muito curioso. 
 
Cria sua realidade baseado em suas próprias expectativas. Não bastasse o acinte, ainda acha de tornar público o seu devaneio. Mais ou menos ocorre na construção civil, com a ideia de palácios e palacetes. Faz tempo que li sobre os nomes pomposos atribuídos aos condomínios de classe média e alta. Refletem a posição social em que os moradores desejam ser vistos. Palácio de Versailles. Residencial Águas do Caribe. Mansão Riviera. Muitos, na verdade, mais parecem umas torres de Babel. 
 
A velha história de “viver de aparências” é algo muito a cara dos brasileiros e das brasileiras. Infelizmente, fomos moldados para isso. Já fui bastante criticada por não ter veículo próprio. Tipo, você ”ainda” não tem carro? Para muitas pessoas, eu “ainda” não cheguei lá. Só não sei aonde querem que eu vá, pois mesmo sem carro, eu ando tanto, feito formiga na roça, como me disse o meu amigo que trabalha no Departamento de Estradas de Rodagem do Rio Grande do Norte.
 
Ele é o meu canal de reclamações (ultimamente, tenho elogiado também) sobre o sistema público de transporte intermunicipal. Sim, uma autêntica viajante, campista, alberguista que sou, utiliza bastante o transporte público. Para quem gosta de conhecer a realidade, o cotidiano do povo, é a melhor opção. Voltando ao tema original, meu paraíso é a liberdade de ser eu mesma, independentemente de onde eu esteja. 
 
E o seu? Talvez seu ideal de vida até seja uma casa engradada. Mas, com certeza, você teria optado para isso. Ou, do contrário, o paraíso vira prisão. Por favor, soltem os passarinhos. Libertem as calopsitas! O sol nasceu para todos e todas. Viva a liberdade!

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