Liliana Borges

06/11/2021 01h01
 
LOJAS COM HISTÓRIA, A Ginjinha…
 
 
O comércio em qualquer cidade tem um peso significativo para sua economia. Fazendo uma simples comparação ele é o instrumento que afere o desenvolvimento da região como se fosse um termômetro que marca a variação da temperatura, pois dá uma ideia de dimensão e amplitude da localidade quando visitamos.
 
“Lojas com História” é um projeto pioneiro criado pela Câmara Municipal de Lisboa em fevereiro de 2015 que teve a intenção de priorizar o comercio tradicional e histórico da cidade; preservando, salvaguardando os estabelecimentos e o seu patrimônio quanto ao aspecto material, cultural e histórico.
 
 Mais adiante criou critérios de atribuição da distinção e a partir de maio de 2017 os comerciantes, proprietários ou sociedade civil por sua iniciativa poderiam candidatar seu estabelecimento a respectiva distinção. Atualmente são inúmeros empreendimentos de várias categorias entre elas alimentação, bebidas, vestuários, lazer, saúde, cultura, entre muitas outras.
 
As Lojas são centenárias e algumas bicentenárias com biografias que nos reportam ao século XVIII, lugares encantadores que é uma verdadeira viagem no tempo para outra Lisboa. Cada estabelecimento foi surgindo a proporção da reconstrução da cidade após o terremoto de 1755, posteriormente sobreviveram as guerras, revoluções, queda da monarquia, ditadura, pestes, oscilação da economia e, assim, foram deixando seu registro na história. 
 
Passeando pela Baixa de Lisboa cheguei ao Largo São Domingos e lá está “A Ginjinha”, aberta em 1840 pelo Senhor Espinheira. É uma pequenina loja que atende seus clientes no balcão com muita atenção e simpatia, sempre perguntando: “Com elas ou sem elas?”. Significa que a bebida seria com ou sem frutas, especificamente as “ginjas”. Os fregueses saboreiam a iguaria em pé em frente à loja que contam com auxílio das disputadas mesas altas sem bancos.
 
Logo na entrada está afixado uma placa que descreve sua origem: “A Ginjinha do Largo de São Domingos, propriedade de um galego, de nome Espinheira, foi o primeiro estabelecimento em Lisboa a comercializar a bebida que lhe dá o nome e que rapidamente se transformou num ex-libris da cidade. Por conselho de um frade da Igreja de Santo Antônio, Espinheira fez a experiência de deixar fermentar ginjas dentro de aguardente, juntando-lhe açúcar, água e canela. O êxito foi imediato, quer por ser doce, que por ser barato e a Ginjinha transformou-se na bebida típica de Lisboa.”
 
Seu preço é muito atrativo, pois a dose custa um euro e quarenta cêntimos, o funcionamento é todos os dias das nove às vinte e duas horas. Ademais é realmente uma delícia e saborear em boas companhias melhor ainda. Na parede ao fundo da loja há registros de exposições internacionais em que a bebida foi premiada com medalhas de ouro, a exemplo do Rio de Janeiro -1923; Macau - 1926; Barcelona -1929; Servilha - 1930 e Lisboa - 1932. 
 
Atualmente a produção do licor está em Arruda dos Vinhos, vila portuguesa no distrito de Lisboa a cerca de 39 km da capital, a qual gira em torno de cento e cinquenta mil litros anuais e o curioso é que quase tudo isto é consumido no mercado nacional, somente dez por cento segue para exportação principalmente para os Estados Unidos.
 
Na sua frente está o Largo de São Domingos e a Calçada à Portuguesa “José da Rosa (2000-2001)”, onde tudo acontece. Palco de muitos acontecimentos, inclusive há um monumento em respeito aos judeus que foram vitimados naquele local, registrando os 500 anos (1506-2006): “Em memória dos milhares de Judeus vítimas da intolerância e do fanatismo religioso assassinados no massacre iniciado a 19 de abril de 1506 neste largo.”  
 
A Igreja de São Domingos também faz parte do cenário, classificada como Monumento Nacional, foi construída no século XIII por determinação de D. Sancho II, ao longo dos anos foram realizadas várias obras. Entretanto foi bastante danificada nos terremotos de 1531 e 1755 e, ainda, bem mais adiante em 1959 ocorreu um terrível incêndio que destruiu todo o interior da igreja. Posteriormente, restaurada reabriu em 1994, mas permaneceram as marcas do incêndio, como também as colunas rachadas, porém se destaca pelo colorido suntuoso de seus mármores.
 
Sempre tenho mais algo para conhecer por estas Terras Lusitanas, muitos cantos, recantos e encantos…
 
LISBOA sua lindaaaa…
 

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