Fábio de Oliveira

11/10/2021 09h59

 

Árvores urbanas e subjetividades em extinção

 

Quando caminho pelas ruas de Nata/RN, sempre observo a vegetação que faz aquela agradável sombra nos finais de tarde. Mas algo me chama a atenção, a ponto de gerar um incômodo.

Eu, que morei e já passei por ruas cheias de pé de azeitona, goiaba, jambo e outras deliciosas frutas, não me habituo a ver raras aparições de árvores nativas e/ou frutíferas nas calçadas e em terrenos baldios. Poucas pessoas refletem sobre isso, por nem considerarem mais as suas memórias, subjetividades e relações com a natureza. Afinal, a maioria de nós cresceu sem grandes orientações da importância dos biomas ao nosso redor.

Mesmo morando sempre em zona urbana, tenho boas recordações da minha infância; sempre estava por perto de árvores que geravam frutos. Tinha um pé de mamão e um enorme pé de abacate no meu quintal, que rendiam saborosas vitaminas e partilhas entre a vizinhança. Também me lembro de passar boa parte do tempo roendo as doces sementes de romã que havia neste pequeno ecossistema do terreno na minha casa.

Já nas calçadas dos vizinhos havia pés de azeitona e jambo, que eram muito disputados para escalada e coleta das frutas mais maduras. Lanchava nos galhos mesmo, observando os movimentos urbanos e entre os intervalos dos passatempos vespertinos: soltando pipas, puxando roladeiras de lata e brincando de tica-tica.

No decorrer dos anos, as árvores urbanas nativas e/ou frutíferas foram perdendo espaço para outras espécies estrangeiras, modificações urbanísticas e desinformações ecológicas. Basta olhar a rua que você mora ou costuma transitar, para perceber que perdemos essa riqueza, como se já não bastasse as perdas que estamos tendo em zonas mais arborizadas!

Por considerarem as folhas secas como lixo – desconhecendo a fundamental importância das folhas secas, quando entram em decomposição, como uma matéria orgânica para o solo, que serve para compostagem e deixar sempre vivo os jardins –, muitas pessoas removem as árvores das suas calçadas. E quando plantam outras, utilizam vegetações não nativas, que acabam ocasionando um desequilíbrio ambiental.

Se queremos um lugar na sombra de uma manhã ensolarada ou no final da tarde, temos ainda um caminho longo de aprendizados e ensinamentos. Estimular e valorizar as relações ecológicas e seus benefícios, é garantir a manutenção da nossa existência, memórias afetivas e subjetividades.

 


*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).