Cefas Carvalho

16/09/2021 00h04
 
Da irracionalidade das paixões (políticas, inclusive)
 
Entrevistei no Jornal Potiguar Notícias pela PNTV nesta quarta-feira o professor da UFRN e cientista político Bosco Araújo, que além de bom amigo e pessoa generosa e de imenso caráter, é das mais inteligentes que conheço. Após várias análises longas e cirúrgicas sobre conjuntura política nacional, perguntei o porque de parte da população ignorar solenemente ótimos indicadores econômicos e sociais dos governos Lula e ao mesmo tempo não se preocupar com a inflação e problemas sociais gerados pelo atual governo. Bosco foi sucinto: "Paixão. Irracionalidade. Parte das pessoas não analisa o que acontece, mas se comporta de maneira apaixonada ou irracional".
 
Recentemente em debates com outros amigos ouvi opiniões semelhantes. Uma parcela da população brasileira atualmente despreza quaisquer dados técnicos ou numéricos que se apresente. Opinam e apoiam com base exclusivamente na paixão. Isso deve explicar porque milhares de pessoas saem ás ruas em pleno domingo para apoiar um governo que permite um cenário com gasolina a 7 reais, inflação de dois dígitos e ainda pede fechamento de STF.
 
Daí eu mesmo não entrar mais em conflito com essas pessoas. Justamente porque não é mais política, na verdade nunca foi de fato. É paixão. Quem experimentou explicar para Romeu que sua história com Julieta não daria certo foi ignorado. Uma paixão daquelas, ainda que fadada à morte, não seria parada com argumentos racionais. 
 
Escrevi há tempos que o bolsonarismo não é e jamais foi um movimento político, e sim, justamente uma paixão. Que em muitos casos surge como identificação, em alguns outros como projeção. Não tenho embasamento acadêmico em psicologia e pouco li de Freud, mas, as pesquisas mostram que a faixa onde Bolsonaro tem mais apoio e votos é entre homens brancos de classe média entre 45 e 60 anos. Isso certamente quer dizer alguma coisa.
 

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