Eliade Pimentel

07/09/2021 00h08
 
Os meus, os seus, os nossos: defeitos
 
Creio que nenhum de nós é perfeito, aliás, nenhum de nós sabe sequer o que é ser um humano perfeito. No conceito sim, pois perfeita é uma pessoa sem defeitos. No entanto, sequer sabemos ao certo o que são defeitos, pois os meus, para mim, podem ser qualidades para você, e vice-versa. Eu falo demais, outros falam de menos... Eu me emociono facilmente, tem gente que nunca chorou na vida. E assim, caminha a humanidade (na qual eu me incluo), mais preocupada em apontar o erros dos outros, do que assumir sua pequenez diante do Universo e  seguir adiante. 
 
Dos meus defeitos, classificados por mim como tal, cuido eu, principalmente sempre que sinto minha vida entrar em sobressaltos por conta de coisas que eu poderia ter evitado. Ao dizer sim ao primeiro copo de cerveja, por exemplo, em qualquer dia da semana, sem pensar no amanhã que está por vir, cheio de compromissos, e arriscar acordar meio de ressaca, meio preguiçosa por conta do metabolismo lento consequente do consumo de álcool, saber que é esse o problema e dar crédito à famigerada presença inoportuna (e obrigatória) da menopausa. Pronto, grave defeito assumido. 
 
Não ter regras próprias para o consumo de bebidas alcoólicas e carboidratos durante a semana. Trata-se de um comportamento que compromete a minha saúde. É um problema meu, que traz consequências para meu rendimento. Sendo que, como meu cérebro trabalha para atender as demandas do dia a dia, jamais coloco meu trabalho em risco, mas eu me sobrecarrego ao não priorizar minha saúde. Eu poderia estar muito mais ativa, mais bonita, cada vez mais em forma. Se eu não entro confortavelmente em um jeans, sinto-me resignada, angustiada. E eu quero ter forças para mudar isso em mim, colocar atividade física e alimentação corretas como metas de vida. 
 
Eu caminho, eu faço trilhas, mas nada se compara a todo dia a pessoa acordar para isso, seja antes ou depois do trabalho, caminhar, correr, jogar bola, surfar, nadar, pedalar e, além disso tudo, no meu caso, cumprir um expediente no quintal, arando, ciscando, plantando, seja o que for, mas que seja recorrente, que seja diário, que seja uma tarefa do dia a cumprir.  Sigo buscando melhorar, sigo buscando negar os copos a mim oferecidos, e só o fato de perceber isso já tem sido reconfortante, tem sido uma baliza em minhas escolhas. 
 
A procrastinação é outro problema em minha vida, seja para tocar projetos editoriais, seja para colocar minha própria vida nos eixos. Creio que não chega a ser algo que prejudique outras pessoas, a não ser quando gero expectativas, sendo que muitas vezes eu me comprometo com coisas que acabam se tornando um sacrifício e eu preciso então me superar, como acordar cedo em dias que estou extremamente cansada. Outro dia,  combinei um bolo de aniversário para uma amiga que mora na comunidade. Ela queria algo raiz, bem simples, o qual sei fazer muito bem. 
 
Marquei outro compromisso para o mesmo dia (as duas coisas eram inevitáveis, não se muda a data de aniversário e um dos meus amigos do encontro estava com dias contados em Natal e reservara aquele momento para tratarmos de um evento literário) e, além disso tudo, ainda tinha de estar às 16h no meu local de trabalho. Fiz o bolo, ficou maravilhoso, cheguei um pouco atrasada no compromisso do almoço, porém meus amigos me compreenderam, e consegui cumprir a terceira tarefa do dia com louvor. Só eu sei o quanto foi difícil não dizer não. 
 
Eu arrisquei porque sabia que iria dar conta, mas foi difícil cumprir tudo. Então, às vezes, nosso defeito e não saber delegar tarefas. Exemplo: no dia anterior à confirmação do 'sim, vou fazer o bolo', eu lembrei de pedir a um amigo para descascar um coco, produto abundante no meu quintal. O simples pedido facilitou o processo, pois quando amanheceu o dia, eu já tinha um coco para quebrar e raspar e pude fazer meu delicioso recheio prestígio, conforme era o desejo da amiga-cliente. 
 
Por me conhecer e me reconhecer não tão perfeita como eu gostaria, faço autocríticas com uma certa frequência. Já recorri à psicoterapia, porém, atualmente, valho-me de meus conhecimentos, de meu amor-próprio e de duas amigas psicólogas que me conhecem bastante e me dão conselhos, orientações e também uns puxões de orelha de vez em quando (os quais agradeço imensamente). Sendo assim, tento melhorar sempre. Sou meio afoita em certas coisas, confesso; sou meio rebelde quando se tratam de hierarquias, regras e protocolos, porém, não me acuse de ser negligente. 
 
Diz o ditado que 'por conta de um grito, perde-se a boiada'. E eu enxerno no dia a dia que isso é uma grande verdade. Quantas vezes fui acusada de estar certa, porém não fui ouvida como deveria por conta do meu jeito meio estabanado de ser? Esse jeito é o que eu classifico como 'grito'. Tem horas que só vai no grito mesmo, e não me refiro ao sentido literal da palavra grito. Mas ao sentido metafórico: quando se coloca o dedo na ferida isso causa uma dor aguda. Você arrisca abalar o ego de alguém ao apontar um erro de informação, um erro de grafia, um erro de digitação, um erro quanto à perda de um 'timing', salutar na comunicação. 
 
Na minha profissão, é assim, erra-se muito, mas poucos ficam satisfeitos por terem o erro apontado. Cá para nós, se o erro não abala uma instituição, eu fico na minha, mas se é algo que com certeza traz um dano, eu vou lá e digo. Meu defeito, na cabeça de muita gente, está no fato de eu - às vezes, não sempre - apontar o erro em público (hoje em dia, leia-se público - grupos de watapp), mas eu faço isso quando percebo que se trata de um equívoco cometido com certa frequência, e meu objetivo é colaborar no sentido geral, para que outras pessoas aprendam com aquela correção. 
 
Mas, já ouvi de um 'superior' a mim que na nossa profissão há muita gente de 'pescoço duro'. Apois, então essas pessoas trabalhem em coisas que não tenham o bem comun como premissa. Caiam fora da comunicação. Tenho trabalhado o que consideram meu jeito inoportuno de tratar das coisas, para que a nossa missão seja cumprida com louvor, porém, continuo desagradando a alguns por esse meu grave defeito, apontar erros, principalmente quando são erros por omissão. Fazer o quê. Cada qual segue ou não com sua 'mea culpa'. Procuro fazer a minha com frequência. 
 
E até uso de um expediente o qual não é muito a minha praia, pedir desculpas - outro grave defeito, seria? Quando me esquivo de pedir, não é por conta de ter orgulho (o tal do pescoço duro), mas é quando são situações por exemplo que não vão mudar a vida de ninguém, como chegar no final de uma festa quando minha intenção era dar uma passada, tão somente (quantas vezes ouço o 'chegou agora?'), ou quando eu tive de passar um perrengue da bixiga para fazer tal coisa e mesmo assim cheguei meio tarde. Mesma coisa. 
Não me sinto na obrigação de me desculpar por tudo, enquanto tem gente que liga ou faz áudios de três minutos para justificar porque não vai fazer um favor. Simplesmente, diga não e siga sem culpa. Porém, como sou piadista e sarcástica, às vezes percebo que ofendo alguém com minhas palavras rudes e peço desculpas, sim. Sem medo de ser feliz. Sempre eu digo a quem quiser ouvir: filha, irmãs, irmãos, namorado, amigos, amigas, colegas de trabalho, vizinhança e colegas de profissão, 'eu sou eu e jacaré é um bicho', porém, eu respeito a condição do animal e procuro não inteferir em seu modus vivendi, nem seu habitat. 
 
Espero que façam o mesmo comigo. Respeitem meu jeito de ser. Faço tanto pela família e por todos ao meu redor quanto gostaria de receber em troca, ou melhor, tanto quanto eu acredito que devo merecer. Sou bem mais legal do que chata. Ou melhor, até a minha chatice tem seu mérito. Já me agradeceram muitas vezes pelo meu grito que ajudou a salvar a boiada inteira. E por fim, apontem meus erros, mas não me chamem de preguiçosa. Sei o que passo por não conseguir me levantar às cinco da matina para me exercitar, sei como sofro por não ter força de vontade para arar o meu quintal, mas isso só tem prejudicado a mim mesma. 
 
Eu trabalho desde os meus 18 anos para ter minha liberdade. E aprendi a valorizar os momentos de ócio. É como eu realimento a minha criatividade, conectando-me comigo mesma, sem nenhuma obrigação ou meta a cumprir. Obrigada por compreender meu jeito de ser. Perdoe-me quando meu grito ferir a sua sensível audição. Seguimos!  
  
 

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