Fábio de Oliveira

30/08/2021 00h08
 
Acampamento Luta pela Vida: mobilizações por (re)existências
 
 
As lutas de nossos povos nas terras de Brasília/DF, no acampamento Luta pela Vida, seguiram entre 22 e 28 de agosto. Parentes de todas as localidades de Pindorama estiveram unides por uma causa que vai além de (re)existências de nós, povos originários. Somos muito além de donos dessa terra; somos parte dela! O marco temporal ainda é desconhecido por muitos, seja por alienação promovida pelo epistemicídio, seja por interesses políticos que culminam em genocídio. Já parou para pensar em quantas pessoas morreram e morrem quando não dialogamos sobre política?
 
Podemos acompanhar mais de perto, por meio das mídias alternativas – e algumas delas articuladas por nós –, a diversidade dos nossos povos e a maior mobilização indígena em 30 anos. Mais de seis mil parentes de 176 povos estão presentes em frente ao Congresso Nacional, lutando por todes nós, em prol de todes que foram mortos desde a invasão europeia, bem como em prol das próximas gerações.
 
O inconstitucional e genocida Projeto de Lei 490/2007 limita os nossos direitos e inviabiliza o processo de demarcações de terras indígenas com base na tese do “marco temporal” – fazendo com que perseguições violentas contra nossos povos sejam legalizadas e a bancada ruralista aumente seu poder explorador, afetando nossas etnias e o meio ambiente. A tese do “marco temporal” informa que o direito à demarcação de terras será válido apenas para os povos indígenas que já as possuem antes de 5 de outubro de 1988 – ocasião da promulgação da Constituição da república Federativa do Brasil. Caso contrário, batalhas judiciais ocorrerão a fim de que sejam garantidos nossos direitos às nossas terras.
 
A partir do momento que não tomamos ciência de projetos de leis como esses, não discutimos sobre o impacto destes e, hipocritamente, fazemos de conta que não temos nada a ver com isso. Pelo simples de fato de “não gostarmos de discutir sobre política”, pessoas e culturas morrem. A neutralidade dos que não querem se politizar gera mortes. Isso é um prato cheio para um (des)governo omisso às questões indígenas, fazendo com que prevaleça o agendamento político de extermínio, que segue fazendo vítimas, pois os ataques são constantes!
 
Nossos povos estão se articulando constantemente para que nem esse projeto de Lei, nem outro similar avance. Como se não bastasse todas as reduções que tivemos desde 1500! É intolerável que isso continue, todavia, a sociedade precisa compreender os impactos dessas movimentações políticas.
 
Pela quarta vez o julgamento foi adiado. Desta vez, adiou-se para o dia 1º de setembro de 2021. Estamos atentes às jogatinas políticas, e estamos nos fortalecendo politicamente para garantir nossos direitos, a fim de que nenhuma gota de sangue a mais seja derramada.
 
Já estávamos aqui antes mesmo de 1988 e não são interesses destrutivos de um modelo progressista de viver que nos anulará!
 

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