Daniel Costa

03/08/2021 00h08
 
Voto impresso ou ditadura?
 
 
Na sua última live, o presidente da república colocou em xeque o processo eleitoral brasileiro ao questionar a higidez do sistema de urnas eletrônicas. Achando pouco, ele ainda convocou a população para sair às avenidas em defesa do voto impresso. 
 
Mas não existe nenhum motivo para que o voto eletrônico seja posto em dúvida. Não há prova de fraudes. Na verdade, o que se sabe de concreto, pelo histórico das eleições no país, é que o voto impresso tem sido propício a múltiplas falcatruas e questionamentos, que só servem para desestabilizar o processo eleitoral. 
 
Ao levantar o dedo para as urnas eletrônicas, então, o que Bolso-naro quer mesmo é guardar no bolso do paletó um plano B para devastar o resultado das eleições, caso ele não seja o escolhido no pleito vindouro. Ao agir desse modo, o presidente trata de burilar a espada a ser cravada na cabeça da democracia. 
 
É por isso que é preciso que exista uma reação concreta contra esse tipo de ação golpista. Se não for assim, estará escancarada a porteira para a subversão da ordem democrática. A grande questão em aberto, nesse sen-tido, é a de saber se as instituições irão enfim tomar as rédeas do país, ou se continuarão a viver como as pessoas do romance “Crônica de uma morte anunciada”, de Gabriel García Márques, em que o trágico destino de Santiago Nasar, embora conhecido de antemão por todos, não despertou a indignação alheia e nem tampouco o desejo de mudança dos aconte-cimentos. 
 
É imprescindível uma ação incisiva do Poder Judiciário, do Poder Legislativo e da própria população contra o agir criminoso do presidente. No que diz respeito ao Judiciário e ao Legislativo, essa reação passa pela chamada lei do impeachment, já que ao fustigar, a troco de nada, o pro-cesso eleitoral, Bolsonaro vem cometendo evidentes crimes de responsa-bilidade. Quando à população, lhe caberá ocupar os espaços públicos com muito mais força, para demonstrar o seu repúdio às intimidações do capi-tão-mor e deixar explícito que o ataque à democracia não acontecerá sem resistência. 
 
De outro modo, não existirá nada mais sensato a se fazer do que abandonar de uma vez por todas o otimismo de que uma eventual vitória da oposição será suficiente para expurgar as ameaças ao regime democrá-tico; e começar a se conformar com a ideia de ter que andar pelas ruas, num futuro próximo, levando no pescoço um medalhão com o rosto gra-vado do novo ditador. 

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