Valério Mesquita

03/08/2021 00h07
 
MACAÍBA DE SEU MESQUITA
 
 
 
01) Este fato pitoresco aconteceu na luta política municipal de 1968, em Macaíba. A protagonista principal foi a minha tia Amélia Násia de Mesquita Meira, avó materna do médico e pesquisador Olímpio Maciel. Dona Nazinha, como era familiarmente conhecida, tinha ido a sua terra votar no irmão Alfredo Mesquita, candidato a prefeito pela quarta vez. A campanha transcorrera em clima de agitação permanente, o que era comum em Macaíba. Lá pelas 10 horas da matina, sob o sol escaldante de um domingo de eleição, os governistas denunciaram inveridicamente que Seu Mesquita estava promovendo aglomeração dentro de sua residência a fim de comprar votos. O juiz eleitoral, incontinenti, despachou o delegado de polícia local tenente Geraldo Cavalcante a fim de bloquear a frente da casa e não mais permitir a entrada de ninguém. Minutos depois, aparece em cena a irmã do candidato que retornava da seção eleitoral. Ao deparar com o aparato foi logo impedida por um soldado. Conhecendo, de há muito tempo, o  tenente, foi ter com ele. “Geraldo, que palhaçada é essa em frente à casa de Mesquita? Esqueceu os favores que ele lhe fez?”. De forma ponderada o delegado explicou que estava cumprindo ordens. “Que ordens? Eu nasci nesta casa e agora sou proibida de entrar?”. Ai revelou-se a têmpera de Dona Nazinha (70 anos), mulher corajosa e espartana que não se submetia aos poderosos. Sacou da inseparável sombrinha e desfechou duas lapadas no peito do delegado, dizendo: “Saia da frente, pois eu vou passar”.  E entrou sob aplausos da galera revoltada com a truculência da justiça e da polícia. Uma figura inesquecível.
 
02) É sabido que o chefe político do interior casava e batizava.  A sua palavra era um dogma. Do povoado de Sucatão surgiu, no sábado de feira, um matuto alto, preto e forte que veio convidá-lo para padrinho do seu casamento. Acanhado e desajeitado, o noivo fez o convite entre sorrisos e quase aos berros, interrompendo a famosa pregação política do dia de feira. O casamento foi no domingo, regado a fobó e cachaça. No outro sábado, o matuto reapareceu pedindo “um particular” a Seu Mesquita. Confessou, desolado, que a noiva não tinha querido nada com ele. “Ela me refugou, Seu Mesquita”, queixava-se com os olhos umedecidos. O velho procurou as razões e teve que descer à intimidade do casal. No final, compreendendo a razão da recusa da mulher, Seu Mesquita ensinou que o noivo primeiramente deveria fazer carinhos etc, e não proceder à moda animal, como fizera. Ao cabo de oito dias, reunido em sua sala com vários amigos, Seu Mesquita teve novamente interceptadas as suas palavras por um vozeirão tonitruante saído da bocarra do negro, eufórico, que da janela escancarou seu sorriso entre os circunstantes, elevando o polegar da mão direita para dizer: “Seu Mesquita, óia, chega ela descangotou!”.

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