Eliade Pimentel

18/06/2021 10h58
 
Eu aguardo a comunicação
 
Sinto necessidade de exercitar a comunicação interpessoal. Desde os primórdios tempos das cartas, na adolescência, eu escrevia folhas e mais folhas com minha letrinha garranchuda. Recebi algumas vezes de uma amiga um trecho copiado em carbono, para eu decifrar o que aquilo queria dizer, tal era a inexatidão do conteúdo escrito à mão. É verdade esse bilhete. Sou péssima em caligrafia. 
 
Lembro-me até hoje que eu me sentava na cadeira de balanço na sala, aguardando a chegada do carteiro. Minha alegria era algo indescritível, a cada entrega de envelopes de todos os tipos, dos mais convencionais, aos mais criativos, endereçados às vezes a uma marquesa, vindo de uma duquesa, ou vice-versa, pois assim nos referíamos eu e uma grande amiga, que por sinal, nos falamos até hoje, pelas redes sociais.  
 
Quando minha mãe instalou telefone lá em casa, eu fiz mil e uma estripulias para poder ligar para alguém ou receber uma chamada. Até pular a meia parede de um quarto para outro, utilizando o guarda-roupa como trampolim, para driblar a porta do quarto fechada a cadeado. Quando fui ao Maranhão, dancei reggae com um rapaz e depois que umas batidas me deixaram meio alta, passei meu número de telefone. Que situação! O dito cujo resolveu ligar a cobrar e o aparelho era ligado no quarto de D. Helena. Desculpinha, rabinho entre as pernas e tchau. Escapei de levar um carão. 
 
Por isso estranho quem tem acesso a todas as mídias, com direito a correr o risco de ser mal interpretado(a) pela falta de comunicação, e não ter tanta necessidade de falar com as pessoas, ou de responder as mensagens, oferecer uma reciprocidade através da comunicação, que eu aprendi ser algo como uma via de mão dupla. Procuro entender porque sei que ninguém é igual a ninguém. E continuo fazendo o que sinto no meu coração, ou seja, falo com as pessoas por minha conta.
 
Porém, teve uma situação que eu me incomodei um pouco. Falei com uma pessoa com a qual eu começara a me relacionar. “Eu te mando tanta coisa, quase não obtenho retorno. Um joinha, que seja. Você me disse para eu ligar, mas eu ligo e poucas vezes você atende”. Ao que sou surpreendida com a resposta curta e objetiva: “eu aguardo a comunicação”. Acho que estávamos ao telefone, não me recordo direito. O fato é que levei uns minutinhos para entender o significado daquela mensagem. 
 
E continuei então a me comunicar, a falar o que penso, a dizer o que gostaria, a compartilhar ideias e projetos, a fazer convites, mesmo que ficasse no vácuo algumas vezes. O fluxo vindo do outro lado passou a ser um pouco mais dinâmico, e assim, as coisas foram fluindo, não sem de vez em quando um mal entendido ou uma cobrança de minha parte. 
Fui percebendo aos poucos que muitas pessoas ao meu redor são assim, são pouco ou nada acessíveis pelas redes sociais, e acabem sento rotuladas como estranhas, devagar, ou classificadas pela expressão low profile. São seletivas, mas sabem usar a comunicação ao seu bel prazer, pois organiza as prioridades. Nesses casos, é bom sempre pedir o e-mail, pois não é difícil ouvirmos o argumento de estarem sem internet, de terem pouco acesso ao sinal, para se fazerem mais misteriosas ainda, porém, geralmente ainda são afeitas ao bom e velho correio eletrônico.  
 
Em pior hipótese, existem as pessoas stalkers. Elas geralmente sabem tudo a seu respeito, acompanham seu status, sabem a última vez que você viajou, a cor do seu gato preferido, sabe que você tem uma filha, sabem até se você está com alguém ou caminha solo pelo mundo. Porém, não lhe segue, tem vários perfis, não curte, muito menos comenta seus posts, faz fofoca com prints, tenta acabar até com sua dignidade, e seu amor próprio. 
 
Quantos casos não ouvimos falar por aí, não é mesmo? De fãs desesperados(as), de ex-tresloucados(as). Por isso, meus amigos e minhas amigas, saibam identificar os perfis low profile que estão ao seu redor, que aguardam a comunicação e dão retorno quando possível. Mas, saibam também interpretar as almas sebosas que aparecem nas tramas das redes sociais, ou até pessoalmente mesmo. Mantenham distância.  
 

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