Wellington Duarte

12/06/2021 00h04
 
As três faces do mandrião 
 
Nessa semana, ao dizer que as pessoas já vacinadas devem deixar de usar máscaras, uma atitude considerada temerária por especialistas, Bolsonaro acrescenta mais uma bobagem à sua lista de sandices ditas e feitas durante a pandemia. O presidente da república continua como um agente provocador, um sabotador do combate a pandemia e um aliado inusitado do Sars Cov 2.
 
Como Chefe de Estado, Bolsonaro é um mandrião, um governante que pouco faz e que passa dias e dias tagarelando bobagens nas suas redes de apoiadores, uma horda desqualificada e criminosa; aparelhando o Estado como se fosse uma “coisa sua e de sua família”, sem nenhuma desfaçatez; fomentando a anarquia militar, criando, sem fundamento nenhum, benesses econômicas às forças armadas e de segurança, numa claríssima compra de apoio para o seu desejo sombrio de dar um golpe de Estado, algo que persegue desde que assumiu a presidência; isolando o país no cenário internacional, pois inaugurou a “diplomacia burra” que se orienta por faniquitos do seu filho, Eduardo Bolsonaro”, o “Eduardo Bananinha” e por delírios do caquético, e sumido, Olavo de Carvalho.
 
Como agente público, um político medíocre, eleito deputado federal sempre ancorado em apoios obscuros situados no campo do “milicianato” carioca, tornou-se presidente, talvez o maior erro histórico já produzidos neste país, em que os “erros históricos” não são tão estranhos, e passou a organizar e compor seu governo com pessoas desqualificadas, de pouco tato com a administração pública, e dispostos a produzir um ciclone no aparelho burocrático do setor público, jogando no lixo todas as regras republicanas e instalando um vergonhoso “toma-lá-dá-cá” em que aberrações se tornam membros do governo por sua amizade com os filhos do Mandrião, além de outros critérios mais soturnos.
 
Como ser humano, Bolsonaro nunca foi exemplo de cidadão. Suas falas, ao longo de sua patética carreira como deputado federal, mostram um ser ressentido, recalcado, violento, misógino, homofóbico, mentiroso, preguiçoso, caluniador, agressivo e corrupto. Um cidadão desqualificado, acabou se tornando presidente da república e foi o que sempre foi levando seus “dotes” pessoais para a condução da chefiar (sic) a nação e com a pandemia seu lado pervertido e cruel veio à tona. Vemos um presidente que quer empilhar cadáveres como uma espécie de troféu macabro de sua postura pessoal, e faz isso sabotando deliberadamente todo o combate à pandemia, sendo um “agente do caos” sem nenhuma máscara.
 
Essas três faces de Bolsonaro revelam que o braZileiro de pouca “construção’ da percepção do que é uma democracia efetiva. O país, que teve em 132 anos de república, nada menos que 41 anos como um regime oligárquico com um único partido, o republicano e 28 de ditadura, ou seja, 69 anos (52,3% do total de anos) em regimes autoritários, restando 62 anos de regimes não ditatoriais, sendo que, descontado o período do chamado “governo provisório”, de 1930 a 1937, teremos apenas 55 anos de regimes em que houve uma relativa liberdade política, ou seja, apenas 42,0% da nossa história republicana foi sob regime de natureza levemente democrática.
 
Talvez isso sugira que Bolsonaro seja a própria expressão da nossa maldição política. Um país construído sob o tacão autoritário das oligarquias históricas, das baionetas dos militares, dos revólveres das forças de segurança, do nepotismo escancarado, da corrupção sistêmica, de um sistema em que os interesses privados regem as ações do setor público e um baixo grau de cidadania. 
 
Ele, como Chefe de Estado, mostra a fragilidade do nosso sistema político-partidário, pois não conseguimos, ao longo da história criar um sistema político com controle social e sim um sistema vertical, gerando anomalias como o atual presidente da república. Bolsonaro é a mostra da falência do Estado “democrático e representativo” e da necessidade de sua refundação.
 
Ele, como agente público, expressa claramente as fragilidades do nosso aparelho administrativo, incapaz de evitar o mais escandaloso aparelhamento do corpo burocrático já vivenciado por este país despois da redemocratização (1985), revelando um sistema cheio de falhas e facilmente corrompido por um clã desqualificado.
 
Ele, como ser humano, revela nosso fracasso civilizacional, nossa incapacidade histórica de construir uma sociedade civilizada e isso mostra como a desigualdade social e um sistema completamente favorável ao embrutecimento, cultural e político, de toda uma nação, fruto de um sistema educacional deficiente e da falta de organismos de controle social eficientes, além de um sistema jurídico eficiente. Ele, o Mandrião, infelizmente, é a imagem do “brasileiro mediano”, esse ser sombrio e violento que vemos em todas as esferas, inclusive nas nossas casas.
 
A grande tarefa civilizatória é tirar o “duce” e sua caterva do poder e começar a difícil tarefa de recompor o Estado, sob as bases republicanas; recuperar a imagem internacional do nosso país; e restituir a mínima dignidade ao tão sofrido povo brasileiro.
 

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