Eliade Pimentel

27/05/2021 20h01
 
As manas se hermanam 
 
Existe um tabu com relação à competitividade das mulheres. Que em vez de nos darmos as mãos, para superarmos juntas os desafios impostos pela sociedade patriarcal, nós seríamos as primeiras a atacar umas às outras. Em parte, isto é verdade, pois tem aquelas infectadas (ainda) pela misoginia e pelo machismo deles, que acabam fazendo cobranças injustificáveis para as manas. Afinal, todas deveríamos estar cientes das dificuldades que passamos diariamente, de quando levantamos até à noite, para termos o direito de colocar nossa cabeça com tranquilidade no travesseiro. 
 
Porém, nessa corrida sem fim que é ser mulher, tenho observado que tem um bocado de nós correndo juntas, para que a vitória seja uma partilha. Infelizmente, a gente há de convir que existe o outro lado. A turminha que adora apontar um “erro”. Mulheres querendo moldar mulheres. Eu aviso logo que não sou chegada à tal competitividade feminina. Mando logo se lascar quem quiser botar rótulo em mim. Ou quem quiser falar mal da outra. Mas, existem umas que são mais frágeis. Temos de estar atentas a essas manas e oferecer nossa mão amiga, nosso braço, nosso ombro, para que juntas possamos ser fortes. 
 
Conversando com uma amiga sobre assédio moral, eu comentei que nas situações que eu tive algum problema com mulheres, em ambiente de trabalho, foi mais fácil resolver. E ouvi de minha interlocutora a seguinte frase: “homem com relação à mulher é ainda pior. As mulheres se hermanam, no final das contas”. A última oração, “no final das contas”, aponta a direção aonde quero chegar. Sim, não foi sempre assim. Tem sido assim. O que significa que atualmente, aos poucos, temos sido mais fieis umas com as outras. E isso me agrada por demais, amigas. 
 
No que depender de mim, sempre darei a mão pras manas. Minha mãe era assim, com as irmãs da igreja. Ela sempre dava um jeito de acolher uma ou outra que tivesse passando por dificuldade. Muitas vezes, eu ouvia conversas entrecortadas, sussurradas, sobre violência doméstica. Tinha até pastor como protagonista nessas histórias em que havia um companheiro agressor. Criada na igreja evangélica, tinha lá seus preconceitos também, porém, quando ficava sabendo que a mulher sofria calada porque não tinha perspectivas, ela oferecia condições para que a vítima tivesse chances de viver uma nova realidade. 
 
Eu também já ajudei algumas amigas a terem outras perspectivas de vida. E o farei sempre que me deparar com alguma mulher sofrendo o que quer que seja. Na comunidade onde resido, em Pium, temos um grupo ágil, de mulheres que se dão as mãos todos os dias. Priorizamos consumir e divulgar produtos feitos por mãos femininas, procuramos ser úteis umas com as outras, e especialmente, não estamos no grupo fofocando, ou apontando. Somos todas maravilhosas. 
 
Vejo em perfis de redes sociais que os piores comentários para as famosas saem justamente de outras mulheres. Eu fico passada. Certa vez, a Fátima Bernardes publicou toda contente o look do dia, era um macacão jeans. Mulheres falaram sobre seu corpo (magro), como se fosse um defeito; sobre a vestimenta, apontada como inapropriada para a idade dela; e ainda teceram comentários maldosos sobre o namorado “novinho” da minha colega jornalista. Desde aquela ocasião, eu decidi não mais ler comentários. Apenas vejo o post, curto e comento o meu ponto de vista. Minha lógica é, se eu não curto alguém, eu não serei sua seguidora. 
 
Simples, assim. Faz bem para o corpo e para a mente sermos mais compreensivas com as manas. Eu posso às vezes ser até dura em minhas colocações, mas nunca – sim, jamais! – eu o faço com os assuntos relacionados ao gênero. Ah, isso é coisa para mulher fazer, isso é coisa de homem. Esses dias, ao ouvir de uma mãe que o filho (de quase 30 anos) ainda está novo para casar, eu pensei com meus botões – novo não está, mas levando em conta que não sabe nem fritar um ovo, não está pronto mesmo para sair da barra da saia da mamãe. Escondi meu sarcasmo e sorri sozinha do meu deboche. 
 
Porque pensei nisso? Pelo fato de que, se o assunto girasse em torno de alguma moça, seria é a primeira coisa que questionariam, não é mesmo? Será que ela está pronta para casar? Agora, aproveitando esse tema, quem raciocina comigo sobre o fato de que, como a minha amiga falou sobre o ambiente de trabalho, por que os homens com relação à mulher são ainda mais terríveis no quesito assédio moral? Ao meu ver, é porque além de termos coração, pulmões e cérebro, como os homens, também temos peitos e útero. E eles não sabem o que é sentir cólicas. Não compreendem que precisamos cuidar da saúde do nosso sistema reprodutor. 
 
Não vamos deixar o machismo e a misoginia acabar com nossa irmandade. Vamos continuar nos hermanando cada vez mais, bonitas! 
 

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