Fábio de Oliveira

24/05/2021 00h06
 
A vida bem-sucedida e as relações de consumo destrutivas
 
 
Nas várias tentativas de me situar profissionalmente, fui subordinado a trabalhos de diversas áreas até chegar aos trabalhos que desenvolvo e atuo hoje em dia. Não mirava cargos elevados, embora tivesse angariado promoções periodicamente. Nós vamos compreendendo sutilmente como o modelo de “vida bem-sucedida” opera e como não é exatamente o que almejamos.
 
Passamos a maior tempo de nossas vidas em horas contínuas de trabalho, desperdiçamos muito do nosso tempo em trabalhos que não gostamos, somos mal remunerados, esquecemos dos nossos e de nós mesmos. Nesse ritmo automatizado, como máquinas eufóricas, nem percebemos detalhes do nosso cotidiano. Temos que ser gratos pela oportunidade de trabalho àqueles que estão enriquecendo às nossas custas?
 
 Durante muito tempo, e ouso dizer, até os dias de hoje, nunca tive grandes ambições de desejar o que a sociedade do consumo nos impõe. Além da buscar por meios suste
ntáveis de viver, meu objetivo jamais foi deixar que essas coisas me possuíssem.
 
 A publicidade toma diversas formas apelativas através das poluições visuais em grandes outdoors, painéis eletrônicos, spams e pop-ups na internet. Somos bombardeados por informações para desejar o carro do ano, o celular recém-lançado com mil e uma funções, mas que usamos um pouco mais que cinco destas. 
 
  Não é novidade que essa onda consumista vem aumentando no decorrer das décadas. O anseio em possuir e mostrar o que tem nas redes sociais. Basta observamos os diversos acontecimentos ao nosso redor, para nos situarmos. Por diversas vezes, em plena pandemia, vi pessoas se aborrecendo com o isolamento social, por não poderem ir aos centros comerciais da cidade comprar calçados, roupas e outras futilidades. Na medida em que as portas das lojas foram reabertas, essas pessoas realizaram suas compras sem a mínima preocupação com a saúde delas mesmas e das pessoas ao redor.
 
O crescente avanço tecnológico e as novas tendências geram necessidades das quais não precisamos, nem tampouco temos condições de mantê-las. Em paralelo a isso, financiamos indiretamente empresas que estão explorando nossos povos, não somente através de uma mão de obra barateada, mas também promovendo a extinção de nossos ecossistemas. Vale lembrar que essa mão de obra é composta por pessoas reais, que têm suas subjetividades, autoestima e sonhos corroídos ao tentarem alcançar objetivos de consumo cada vez mais inalcançáveis, como se a nossa felicidade dependesse disso. Não estou querendo dizer que sou contra o avanço e o uso dessas tecnologias, todavia, que todas essas customizações deveriam contribuir para a nossa qualidade de vida, sem recorrer a devastações de todo tipo de existência.
 
Aos poucos as pessoas vão perdendo a conexão consigo mesmas e com a natureza, e esquecem que é possível se beneficiar das matas, das águas e dos solos, sem destruí-los. Nossos povos sabem fazer isso muito bem; a natureza é nossa aliada para manutenção do nosso equilíbrio. A lógica das culturas indígenas de compartilhar não pode mais ser soterrada. Parar de consumir não vai mudar o fato de que estão acabando com o nosso planeta, porém, acredito que mudar os hábitos de forma sustentável e ensiná-los para nossos curumins e cunhatãs, atribuirá uma nova e promissora configuração para a “vida bem-sucedida”.
 

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