Wellington Duarte

08/05/2021 11h51
 
 
Um inferno chamado Brazil 
 
 
Imaginem, ao raiar do dia, em pleno céu claro, uma equipe de policiais, bem armados e com a fúria nos olhos e dedos coçando, invadissem o condomínio de Green Village, onde residem membros da classe média alta da nossa capital, e fulminassem 24 indivíduos, todos considerados “suspeitos” e, portanto, alvos a serem abatidos em nome da “justiça”.
Imaginem se numa das ruas floridas do dito condomínio, fosse postada uma foto de um adolescente branco e “bem apessoado”, morto dentro de um carrinho de mão, e exposto em pose com um dedo na boca, como se fosse um aviso aos adolescentes daquele garboso condomínio.
 
Imaginem a reação dos meios de comunicação locais nesse caso, em que o sangue de brancos ou quase brancos (negros aquinhoados) foi espalhado nas belas casas desse belo condomínio. Imaginem um representante da polícia, em posterior entrevista coletiva, afirmar peremptoriamente que os 24 jovens eram “criminosos” e que tudo é culpa do tal “ativismo judiciário”, uma aberração criada na mente distorcida dos que podem, com um tiro, fulminar vidas. Imaginem um secretário de governo ir a público dizer que a morte de 24 brancos, ou quase brancos, dizer que tudo foi feito com “muito planejamento”, depois de DEZ MESES DE PREPARAÇÃO.
 
A chacina de Jacarezinho, uma comunidade de gente pobre e proletarizada, localizada na zona norte do Rio de Janeiro, com mais de 60 mil habitantes, não foi, não é e não será a última chacina que essas pessoas serão submetidas. A novidade é que, desta vez, tinha o selo do governo do Rio de Janeiro e não foi nas sombras da noite, com encapuzados, e sim ao dia, sem nenhum pudor ou temor.
 
Nós já conhecemos o bordão “bandido bom é bandido morto” e vemos, todos os dias, elementos que idolatram os esquadrões da morte ao vivo e em cores, sem nenhuma desfaçatez, enalteceram a Morte. Aliás temos um presidente da República que tem uma forte aproximação com a Morte, quer pela sabotagem com relação a pandemia, quer pela sua relação, ainda a ser esclarecida, com as milícias cariocas. Do “bandido bom é bandido morto”, “evoluímos” para o “suspeito bom é suspeito morto” e pode, com certeza, alguém, ao ler esse texto, ranger os dentes e mandar o escriba levar um “bandido” para casa.
 
Daqui a 15-20 dias, com mais de 3 mil mortes por dia, a morte dessas 24 pessoas e mais a de um policial, que tombou na refrega, estará esquecida ou pelo menos deglutida pela população, mais preocupada em sobreviver no dia a dia, especialmente se for pobre, negra, ou quase negra (brancos muito pobres) e morar na periferia.
 
Temos, como sociedade, ter que, um dia refletir sobre como chegamos a esse patamar, em que a vida se tornou uma variável secundária e a Morte foi colocada num patamar elevado, em que os reacionários a louvam diariamente. 
 
A que ponto chegamos.
 

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