Liliana Borges

24/04/2021 00h19
 
BAIRRO ALTO, Boémio…
 
 
O Bairro Alto é um dos bairros históricos de Lisboa e esta situado vizinho ao Chiado, este último é considerado um bairro aristocrático e o Alto foi um bairro operário que D. Manoel I mandou construir para residência dos trabalhadores ligados a sua corte, como os profissionais dos estaleiros navais, arte, entre outros. A exemplo dos douradores valorizadíssimos na época, eles faziam talhas douradas com a cobertura em ouro.
 
 Este bairro foi o primeiro de Lisboa submetido ao planejamento urbanístico e bem mais adiante muitos jovens começaram a viver na região, assim caracterizou como um o bairro de coração jovem, muito embora que se faz presente todas as faixas etárias. Ademais é considerado um bairro alternativo com a arte a flor da pele e suas lojas de tendência.
 Atualmente é muito frequentado pelos lisboetas, além de outros portugueses, imigrantes e turistas que usufruem da vida noturna nos bares, cafeterias, discotecas, e restaurantes, os quais são badaladíssimos. Quando iniciou este último desconfinamento teve um grande fluxo de jovens por lá e foi necessário mais algumas medidas restritivas.
 
Caminhando por suas ruas que tive a honra da companhia do meu amigo João Correia, conhecido como João do Tuk, quem me apresenta Lisboa com seus vastos conhecimentos, tive a oportunidade de vislumbrar vários patrimônios com suas histórias, além de algumas curiosidades. A exemplo do belo Miradouro D. Pedro de Alcântara, os reis da quarta dinastia tinham inúmeros nomes e sobrenomes, mas D. Pedro I do Brasil fazia referência a ele próprio somente Pedro de Alcântara.
 
Neste Miradouro podemos visualizar o Mosteiro de São Vicente de Fora, o Convento da Graça, Miradouro da Senhora do Monte, pois estamos no lado oposto e, ainda, o Castelo de São Jorge, a Sé Catedral, a Estação do Rocio do séc. XIX, os arvoredos da Avenida da Liberdade…
 
Há muitos cantos e recantos tradicionais nesta localidade, como a Rua da Rosa que é uma das mais conhecidas, pois atravessa de uma ponta a outra do bairro, como também, existem vários arcos que cruzam um lado a outro de uma rua ligando residências de um mesmo proprietário.
 
A Rua do Abarracamento de Peniche passou ter esta denominação na altura do terremoto de 1755. O Marques de Pombal emitiu várias ordens para manter a segurança na cidade, determinou que o Regimento de Peniche viesse para Lisboa e eles se instalaram naquela área em barracas, formando um acampamento. E mais, mandou construir na zona do Convento do Carmo forcas mais altas do que o costume na época para que a população pudesse ver a distância o que acontecia com as pessoas desordeiras.
O Convento dos Cardais é situado nas proximidades entre o antigo Abarracamento de Peniche e a rua que residia o Marques, deve ser um dos motivos que esta edificação não tenha sido saqueada na época do terremoto. Em outros períodos durante invasões ocorridas em Lisboa também não foi depredado, conservando sua decoração original. 
O Tribunal Constitucional também está situado na região, chama-se Palácio Ratton que deve o nome ao seu primeiro proprietário, Diogo Ratton (1765-1822), este foi um dos mais destacados membros do grupo de industriais e grandes comerciantes fomentado por Pombal. Este Tribunal é o único do sistema judicial português que suas decisões são definitivas e inapeláveis.
 
A Igreja de São Roque é um dos mais belos patrimônios da região e uma de suas Capelas é a de São João Batista que foi considerada entre as mais ricas da Europa. Esta foi encomendada por D. João V em 1742 aos arquitetos Luigi Vancitelti e Nicola Salvi, executada por uma equipe de artistas italianos, construíram em Roma e posteriormente foi transportada para Lisboa em peças por três barcos, caso afundasse algum não perderia tudo.
 
Curiosamente São Roque é um santo francês que foi viver na Itália na região de Bergamo, onde havia frequentemente epidemias, ele tratava as pessoas afetadas e assim, contraiu a doença. Então ele acreditava que a melhor maneira era se isolar para não contaminar outros e foi viver na floresta até ficar curado. A ideia de que as pessoas se afastam em tempos de pandemia foi de São Roque e como Lisboa frequentemente havia pestes construíram uma igreja em sua homenagem. 
 
Mais um fato interessante, a Cervejaria da Trindade representa o local onde era o Convento da Trindade, este era símbolo do poderio religioso na época juntamente com o Convento do Carmo. Para além do poder do rei as grandes instituições de Lisboa eram os dois conventos, entretanto no terremoto de 1755 ambos foram ao chão e, naquela época quando alguém queria dar dimensão do desastre dizia: “caiu o Carmo e a Trindade” e até hoje os portugueses usam esta expressão.
 
Ruas, ruelas, travessas surpreendentes e encantadoras…
 
 

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