Emanuela Sousa

18/04/2021 00h03
 
"Porque romances não são espelhos da realidade?" 
 
 
Essa pergunta, feita durante uma das aulas de "Literatura e Sociedade" essa semana, me faria disparar milhares de âncoras, algo mexeu dentro de mim. Inquieta, anotei algumas coisas no bloquinho de notas e continuei com a atenção voltada para a explicação. 
 
Obviamente, por ser uma aula com o tema literário, o professor se referia aos romancistas do século XX  e às obras que fizeram e ainda fazem sucesso pelos traços marcantes, como a linguagem utilizada, os personagens e cenários da época. 
 
Mas o que anotei no bloquinho foi como esta pergunta também pode ressoar com a nossa realidade atual, pois, por diversas vezes, peguei-me questionando o porquê dos romances não se parecerem com a realidade, e porque até hoje sonhamos em achar algo que só encontramos nos livros. 
 
Desde o ensino médio tenho profunda admiração pela literatura romântica, li Romeu e Julieta pela primeira vez aos dezoito anos. Com os olhos brilhando,lendo do começo ao fim, ainda nos intervalos do trabalho, lembro-me de carregar no peito o desejo de ter para quem escrever daquela forma romântica e envolvente, que na minha cabeça era algo impossível de acontecer. 
 
Até os dias de hoje, assim como Shakespeare e os milhares de romancistas que passaram nessa vida escrevendo sobre amores vividos, tenho a sensação de que, no fundo, no coletivo, esperamos viver um amor assim, dos séculos passados. Em pleno século XXI, no meio da turbulência que nos amedronta, dos anseios e angústias, vestimos ilusões que fazem contraste com a nossa modernidade atual. Pois estamos fartos de relacionamentos falidos, superficiais e com finais cruéis, recorremos aos livros em busca de algo que nos faça acreditar no amor ideal, romântico, sonhador, mesmo que ainda platônico. 
 
Queremos algo que nos remeta aos sonhos, que faça nos pensar que a vida não é só tragédia, que os romances que encontramos pelo caminho nem sempre são um fracasso.
 
Vendo por essa visão de ótica, não custa lembrar que o mundo atual não anda bem, as notícias têm sido desanimadoras, os amores atuais,  traumáticos... Precisamos ouvir Beethoven, desaparecer por alguns minutos. Precisamos ler Shakespeare muitas vezes para não enlouquecer. 
 
Eu estaria sendo ingênua demais para  garantir que os romances serão como um espelho do que encontramos nos livros, uma vez que o mundo moderno é mutável, a tecnologia avança, enquanto a literatura é fixa, durará até os finais dos tempos. 
 
Fugir da realidade por alguns instantes ao embarcar na literatura é um bem que fazemos à nossa saúde mental. Idealizar o romântico pode trazer um pouco de alento para a sanidade destruída pela realidade. Vivemos sempre sonhando alto, carregamos no peito desejos que parecem não casar com a realidade, está tudo bem sonhar alto, afinal, no fundo, a gente merece o romantismo.
 
 

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