Bia Crispim

02/04/2021 00h03
 
Transfeminismo – O que é?
 
Em 05 de junho de 2020 eu escrevi para esse jornal uma coluna intitulada “SOBRE NORMAS, TRANSGRESSÕES E SOFRIMENTOS” em que eu abordava a questão do binarismo de gênero imposto pela cisheteronormatividade e de que maneira isso impactava/impacta a vida de uma pessoa Trans. 
 
Para construir aquela coluna, eu tomei como referência algumas produções acadêmicas da professora Berenice Bento, socióloga, mestra e doutora em Sociologia pela Universidade de Brasília, cujas pesquisas concentram-se em temas como gênero, sexualidade e direitos humanos, que, segundo a Wikipedia ela foi considerada "uma referência incontornável para os estudos recentes de gênero no campo das ciências sociais" e também das produções de Flávia Almeida, advogada pela Universidade do Pará, cujo foco de estudos concentra-se nas violações de direitos contra a população Transexual. 
 
Para entendermos um pouco mais sobre o tema que trago nesta coluna de hoje para nossa reflexão semanal: o TRANSfeminismo, vou me apropriar novamente de algumas falas de Flávia Almeida e apresentar o pensamento de Hailey Kass que é Transfeminista, tradutora, escritora e pesquisadora e fundadora e coordenadora do coletivo Transfeminismo.
Mas afinal, o que é o Transfeminismo? 
 
O Transfeminismo é um movimento que desponta a partir da necessidade de representação. Segundo Flávia, ele “surge como uma forma de responder as demandas dessas mulheres Trans que foram expulsas do movimento feminista majoritário, é uma crítica às desigualdades do movimento feminista, pela perspectiva transexual. Essa corrente bebe das fontes da terceira onda (feminista), afastando a ideia de que o gênero está atrelado ao órgão sexual e defendendo que existem diversas formas diferentes de ser mulher, afastando o conceito universalista de que mulher é aquela com vagina.”
 
E porque as mulheres Trans e Travestis, de forma generalizada, foram expulsas do movimento feminista? 
 
Flávia aponta que a maioria das mulheres que fazem parte do movimento feminista sinaliza o fato de que mulheres Trans e Travestis “foram socializadas como homens. Ao nascer com um pênis, receberam um nome masculino, lhes foi dito que deveriam ser fortes, racionais, que a elas tudo era permitido, inclusive invadir corpos femininos, receberam o privilégio do poder de dominar e falar nos espaços sociais. É claro que sua vivência é, diametralmente, diferente da vivência de outras mulheres nascidas com vaginas, socializadas para serem dominadas. Mas, aqui se questiona: a experiência destas mulheres Trans é igual à de homens cis (ou seja, que se adequam a identidade de gênero masculina)? Elas passaram pelo mesmo? O privilégio que lhes foi dado é, de fato, um privilégio?” 
 
E é por sabermos do peso e da violência de como (cis)tema oprime, objetifica, agride e invisibiliza mulheres Trans e Travestis, retirando delas esses ditos “privilégios”; por entendermos que é necessário e urgente a quebra do conceito biologizante e genitalizador  quanto ao que nos faz homem ou mulher (que nos excluem do movimento feminista); e também pela nossa necessidade de representatividade enquanto seres femininos (o que nos sujeita às formas comuns de machismo),  que o transfeminismo nasceu. 
Nasceu como “recurso de empoderamento de pessoas Trans, para dar-lhes voz e espaço, para que estas pessoas se sintam bem com seus corpos e para que tenham a liberdade de se identificarem como querem.” Diz Hailey Kaas .
 
De acordo com essa pensadora: “É importante ressaltar a importância da aliança entre o feminismo cisgênero (não Trans*), seja ele tradicional ou feminismo negro, das trabalhadoras sexuais, socialista etc., e o Transfeminismo. O Transfeminismo não vem para substituir nenhum feminismo, mas sim para pedir que as feministas cisgêneras sejam parte de nossa luta como aliadas e também apoiar a luta de todas as outras mulheres que não são Trans*. Como bem lembrou Emi Koyama em seu famoso texto Manifesto
Transfeminista: (...) O Transfeminismo não é sobre se apoderar de instituições feministas existentes. Ao contrário, é sobre ampliar e avançar o feminismo como um todo através da nossa própria liberação e trabalho em coalizão com todas as outras pessoas. O Transfeminismo luta por mulheres Trans e não Trans , e pede às mulheres não Trans para lutarem por mulheres Trans também. O Transfeminismo engloba políticas de coalização feminista nas quais mulheres com diferentes vivências e histórias lutam umas pelas outras, pois se não lutarmos umas pelas outras, ninguém irá.
 
TRANSFEMINISMO é uma maneira de praticarmos SORORIDADE!
 
Obs.: Para saber mais sobre nossas existências e lutas, confiram as produções intelectuais das mulheres citadas nessa coluna.

*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).