Eliade Pimentel

01/04/2021 00h02
 
Com quem vocês conversam?
 
Há gente de todo tipo e cada qual se comunica de algum jeito específico. Tem gente que fala pelos cotovelos, tem gente que mal suspira. Tem gente que não gosta de dizer o que sente, mas revela o que deseja pelo olhar. Tem gente que não faz questão de conhecer ninguém, tem gente curiosa como eu, que adora jogar conversa fora e faz questão de conhecer meio mundo de gente. Tem gente que tem os mesmos amigos há mil anos, tem gente que renova as amizades a cada novo amanhecer. 
 
Eu sou da teoria de que falar espanta os males, afasta o mau olhado, dissipa as dores. Gosto de puxar conversa sobre tudo e ao longo da vida esse tem sido um dos meus dons, ou vícios. Felizmente tem mais me ajudado, do que prejudicado. Dessa forma, quantas vezes eu aprendi algo ou ensinei. Respondendo mais do que me perguntaram, perguntando além do mais evidente. Acho importante incentivarmos toda forma de comunicação. Por isso estou falando disso aqui. Dos bons dias quando vamos pegar o pão na padaria, ao boa noite para quem está com a gente em casa. 
 
As pessoas passam a ter mais percepção da vida quando tiram suas dúvidas, expressam seus anseios, questionam seus direitos. Conversar alivia o pensamento, sejam as conversas de calçada, de parada de ônibus, de fila do banco. As relações se tornaram secas em alguns ambientes. Tem gente que mora em condomínio e não conhece ninguém, não sabe quem está de filho novo, quem teve o pai internado, e assim, não pode se mostrar presente nunca, a não ser para si e os seus, não se mostra prestativo porque não troca ideia com ninguém, e será até mais difícil se um dia precisar de ajuda.   
 
Lembro que eu conversava com minha filha desde quando ela era bebê. E assim, a menina aprendeu a falar logo cedo, sem aquela linguagem chata tatibitate que empregam com as crianças. Quando encontro com minha irmã Eldinha, que é mais velha de todos e tem hipotireoidismo congênito, portanto é uma pessoa do grupo das especiais, vivo puxando conversa também. Ela está meio preguiçosa e eu a provoco, para forçar se comunicar da melhor forma e não ser mal interpretada. E assim, já fiz muitas entrevistas, deixando as pessoas bem à vontade para falarem de si.  
 
Com quem vocês conversam? Iniciei fazendo esse questionamento porque eu acho terapêutico não ter papas na língua. Conversar com todo mundo, desanuviar o ambiente com conversas aleatórias. Sobre a gasolina que não para de subir? Sobre o campeonato que parou – será que volta? Sobre a pandemia que não cessa? Sobre esse assunto, a guerra contra o coronavírus, gosto de propagar para todo mundo que o melhor remédio é ficar em casa, reforçar o sistema imunológico com alimentos antioxidantes, como os vegetais de toda espécie, e tomar algumas gotinhas de extrato própolis, diluído em água.
 
E com seus companheiros, suas companheiras? Suas filhas, seus filhos? Sua família? Seus irmãos, suas irmãs? Sobrinhos e sobrinhas? Primos e primas? Fale sobre tudo com esse povo. Fale do tempo, da chuva, ou do calor, ou do frio. Expresse daquele desejo besta que todo mundo na repartição teve de comer pão quente com manteiga e café com leite no meio da tarde. Conte uma história engraçada, elogie quem você ama. Fale como foi seu trabalho, como foi seu dia, é legal compartilhar as delícias e as dores do dia a dia. Reclame mais uma vez do ônibus que demorou, da fulana que estacionou na vaga de idoso, no cidadão que se negou a usar máscara e você ficou sem graça, mas se negou a atendê-lo. 
 
Experimente melhorar as suas relações através do diálogo. Perceba onde está a lacuna e tente preencher. Com sua fala, ou com seu silêncio. Já prestou atenção que tem assuntos meio proibido dentro de uma relação? Aquele assunto que já teve seu lugar de destaque, mas agora que está bem escondidinho é melhor deixar lá, quietinho? Então é isso, ficar na sua de vez em quando é uma solução para gerar o equilíbrio e evitar desgastes desnecessário, porque o silêncio muitas vezes é a resposta para aquela perguntinha impertinente.  E não se canse de tirar suas dúvidas. Às veze eu começo um assunto de maneira meio tímida e meu namorado percebe e me diz: “pergunte o que quiser, sempre”. 
Exercitar os dois lados, ao meu ver, é vital para aprendermos a viver em harmonia com as pessoas, é essencial para apararmos as arestas das relações. Quando digo que falo sobre tudo é porque converso sobre o tempo, troco receitas, falo besteira, só não gosto de reclamar da vida. Ah, isso não. Eu estou sempre de boa. Afinal, a alegria de viver é meu lema! 
 

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