Wellington Duarte

27/03/2021 02h32
 
A elite rastaquera brasileira, a companheira da morte
 
Se você acha que já vimos de tudo nesse país, com um Zebub na chefia de Estado, não deve ter lido a notícia de que empresários do setor de transportes de Minas Gerais, resolveram passar por cima das mínimas condições éticas e, obviamente, da atual norma que está regendo a esculhambação em que se transformou a vacinação nesse país, compraram vacinas, colocaram numa garagem e, sem dizer nada, a não ser aos seus, vacinaram-se. Os organizadores foram os irmãos Rômulo e Robson Lessa, donos da Viação Saritur e um dos beneficiados foi o presidente da Confederação Nacional de Transportes (CNT), o ex-senador Clésio Andrade, que tomaria a vacina através do SUS na próxima semana, não se fez de rogado e disse singelamente que foi convidado e aceitou ser vacinado, gratuitamente, segundo o próprio Clésio.
 
A falta de empatia não é novidade entre o empresariado nacional que nunca, na nossa história, foi capaz de, atuando como classe, simpatizar com qualquer ação humanitária. No máximo essa elite rastaquera, que copia Miami, se vangloria quando faz alguma ação assistencial e, no meio da pandemia, suas corporações se alinharam invariavelmente com a “defesa da economia”, uma atitude porca e vergonhosa, e que acabou por ter impacto negativo nas tentativas quase desesperadas de governadores e prefeitos em evitar o colapso dos serviços públicos de saúde.
 
Aliás essa cretinice de continuar chafurdando contra as medidas de contenção dos casos, o que não significa terminar com a expansão da pandemia, pois ela só se dará com VACINAÇÃO e não remédio para verme, chulé ou flatulência, como alguns tungões ainda reverberam, continua em vigor, bastando para isso ver a justificativa dada pelos vereadores que aprovaram o projeto do vereador Klaus Araújo, do Solidariedade (sic), que incluiu nas atividades consideradas como essenciais da cidade, os serviços educacionais em escolas públicas e privadas.
 
A justificativa dada pelo vereador Klaus é esclarecedora: "Muito importante o projeto. É óbvio que a educação, a escola, fazem parte do nosso cotidiano e precisam estar abertas. Infelizmente algumas pessoas estão vendo ao contrário. Sabemos que as escolas municipais e estaduais não se prepararam e eu espero e quero que a escola pública permaneça fechada, enquanto os professores não forem vacinados e enquanto os protocolos não forem atendidos, mas as escolas particulares precisam reabrir e não podem pagar pela irresponsabilidade dos governos", (trecho retirado do próprio site da Câmara Municipal de Natal). Apenas TRÊS vereadores votaram contra: Júlia Arruda (PCdoB), Divaneide Basílio (PT) e Robério Paulino (PSOL).
 
A lógica desses vereadores e vereadoras, completamente sintonizadas com interesses empresariais, exprime como a nossa elite é sombria. Os interesses dos donos de escolas e de academias, que Klaus defende abrir também, devem ser colocados acima das vidas das pessoas e se um ou outro morrer, paciência, faz parte da vida, afinal tive que ouvir de uma pessoa que trabalha no serviço público e que defende o Mandrião, que “todo mundo morre”. Alguém pode soprar no ouvido do vereador Klaus que a vida cotidiana faz parte da vida, e essa vida cotidiana está ameaçada pela morte. 
 
A lógica dos empresários mineiros é a do “primeiro eu e os meus”, típico de uma sociedade que construiu e se constituiu por meio da desigualdade brutal que coloca milhões de pessoas na miséria e no desespero em tempos de pandemia, enquanto essa elite continua “dando banana” para quem efetivamente o sustenta.
 
Se quisermos, um dia, ser uma nação, teremos que empurrar, goela abaixo, o sentido de civilização, à essa elite, especialmente a sua parcela mais obtusa e apoucada, e fazer com que, na recuperação, que um dia virá, os que tudo criam sejam tratados como efetivamente são: fonte da riqueza desse país.
 

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