Wellington Duarte

13/03/2021 00h24
 
Sob o mandrião, temos mais do que uma guerra do Iraque nas nossas covas
 
De acordo com os registros históricos, a guerra que devastou o Iraque entre 2003 e 2017, com direito a milhares de mortos civis, causou, entre as perdas civis e militares, 191.119 mortos. No Bolsonaristão, o número de mortes ERA, até o dia de ontem, de 272.889 falecimentos em decorrência da COVID-19. Obviamente que é preciso cuidado em certas comparações, e essa, de livre escolha, é para utilizar uma situação de uma guerra extremamente violenta e sanguinária e a outra, numa situação de pandemia. 
 
Não estamos numa situação de guerra, é verdade, mas os mortos se avolumam e a sociedade parece que está se “acostumando” com a desgraça abatida sobre o país, inclusive com boa parte assinando embaixo a inação e a sabotagem do governo federal no combate à praga. Não há, de fato, cidades em ruínas, com milhões de desabrigados e refugiados, mas temos milhões que estão em desespero, famélicos e esgotados, afinal estamos nesse calvário há quase um ano e o cenário e de mais miséria esse ano.
 
Resisto a fazer essa comparação, mas sou obrigado a olhar os dois cenários e ver que o quantitativo de mortos em UM ANO de pandemia, fez tombar mais brasileiros que os CATORZE ANOS de sangrenta guerra civil no Iraque. No Iraque toda a infraestrutura foi destruída; as instituições políticas esfaceladas; e a sociedade desintegrou-se, gerando uma miséria sem precedentes na curta história daquele país.
 
No BraZil, sem guerra, nossa infraestrutura foi destroçada por um bando de procuradores que enfraqueceram as estruturas produtivas do país e a pandemia devastou o que existia, principalmente os pequenos e médios negócios, tudo isso com a colaboração do governo central, que simplesmente deixou a “mão invisível” de Smith esganar os setores empresariais mais frágeis; as instituições políticas, se não foram destruídas, foram enxovalhadas, enfraquecidas e temos um republicanismo de bananas instalado no país; a sociedade não desintegrou-se, de fato, mas deformou-se, fazendo surgir uma súcia, adoradora da morte e com um pensamento medieval, e vemos hoje o que somos : uma sociedade que está em luta permanente (civilização x barbárie). Há, de fato, a ruína social, que não atinge boa parcela da classe média, refugiada nos seus condomínios e confortada pela sua ignorância consentida, que a exime da responsabilidade dos mortos que batem à sua porta.
 
Temos um governo liderado por uma malta que parece uma combinação do Exército de Brancaleone do terror, com figuras sinistras agindo todos os dias para jogar o que resta do país no lixo da história, com o Zorra Total, em que o descalabro seria cômico, se não estivéssemos nessa situação de penúria.
 
A escalada de mortes parece que, aos poucos, vai se naturalizando, com uma parcela da população, aceitando a morte, dos outros é verdade, enquanto a que está no fio da navalha, persevera à sua maneira, mas não enxerga futuro, o que pode levar ao desespero social, com consequências que ainda não temos como inferir.
 
Ao aceitarmos a Morte como companheira cotidiana, sempre à soleira, aceitaremos ser dirigidos por um Palhaço de Mal, que a cada sorriso saído do seu rosto deformado pela ignorância, joga um brasileiro na cova.
 
Para onde vamos?
 

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