Liliana Borges

27/02/2021 00h28
 
MAFRA, Palácio Real…
 
 
Mafra faz parte do Distrito de Lisboa e está a cerca de 40 Km da capital portuguesa e o Palácio Nacional, também conhecido como Convento de Mafra, está situado neste Concelho.
 
Sua história começou a ser traçada quando o rei D. João V casado há mais de 3 anos com D. Maria Ana de Áustria não possuía herdeiros para dar continuidade a dinastia e em um encontro com o Frei Antônio de S. José, Frade Franciscano e D. Nuno da Cunha, Bispo Capelão-Mor, pediu que intercedesse a Deus por descendentes e, de imediato responderam: “Prometa El-Rei a Deus construir um convento na Vila de Mafra, que logo Deus lhe dará sucessão”.
 
Além deste fato que motivou sua construção, há mais outra fonte que poderia ter sido em decorrência de uma grave enfermidade e um pedido de cura ao Divino, o monarca fez um voto de construir um convento para a Ordem de São Francisco em Mafra. Uma das quais razões que sejam, o lançamento da pedra fundamental foi em 17 de novembro de 1717.
 
Inicialmente, o convento seria para 13 frades e por fim chegou a abrigar 300, mais um Paço Real, uma Basílica, hospital, e além disso uma suntuosa biblioteca com cerca de 30.000 volumes, entre o séc. XV ao XIX. A direção da obra foi de João Frederico Ludovice, ourives de formação, e com a ajuda dos produtos oriundos das colônias como o Brasil, o ouro e a madeira, contribuíram consideravelmente para sua construção. 
 
Mafra tinha tradição na área de arquitetura e engenharia, formavam profissionais e mão de obra especializadíssimas que posteriormente foram fundamentais para a reconstrução de Lisboa após o terremoto de 1755, inclusive o terremoto não fez grandes estragos nesta vila. Este edifício tremeu, dizem que balançou como embarcações nas ondas, mas permaneceu na sua magnificência.
 
 D. João V custeava as despesas do convento denominadas “bolsinho” d’El-Rei que eram duas vezes ao ano, no Natal e no São João. Estas doações eram curiosamente compostas de 300 navalhas de barba, 1400 penas de escrever, 140 resmas de papel entre outras. E ainda, mensalmente fornecia 3 arrobas de tabaco. 
 
No núcleo conventual havia três enfermarias: Enfermaria dos Convalescentes, Enfermaria dos Noviços e a Enfermaria dos Doentes Graves. O rei pesquisou indagando por toda a Europa quais seriam as modernas regras de higiene que deveria seguir para que fosse um dos melhores hospitais do reino, a exemplo de quantas vezes deveriam mudar a roupa de cama. E, ainda, o monarca instalou uma botica, renomado laboratório farmacêutico.
 
Ao longo do palácio há belas dependências como a Sala de Diana, Sala de Caça, Sala do Trono, Sala de Jogos, entre muitos outros. Cabe destacar a Sala de Música, onde família real recebia seus convidados e está representado o retrato de D. Pedro II, Imperador do Brasil, como também, um de D. Maria Amélia de Beauharnais com sua filha Maria Amélia, a primeira foi esposa de D. Pedro I do Brasil.
 
Este magnífico palácio foi palco de muitos acontecimentos na história portuguesa, como também, foi associado a arte, educação da nobreza, festas religiosas, cavalgadas e a caça. Mais adiante o príncipe regente, futuro D. João VI, passava largas temporadas, posteriormente, a família real passou a residir no período conturbado que antecedeu a invasão francesa até este rei com sua corte ir para o Brasil.
 
Cabe ressaltar que de lá foram levadas inúmeras preciosidades para o Brasil como: pinturas, mobiliário, tapeçarias, porcelanas, peças de arte, os quais foram utilizados pela corte e a maioria não mais regressaram a Portugal, pois quando D. João VI retornou para seu país deixou seu filho como príncipe regente.  
 
Mais um fato importante vinculado ao local é que ficou associado ao fim da monarquia, pois D. Manuel II passou sua última noite no reino antes de partir de Ericeira para o exílio, em 05 de outubro de 1910. E, então, com a proclamação da república, o Paço Real foi transformado em Museu, denominado Palácio Nacional de Mafra, o qual já havia sido classificado como Monumento Nacional desde 1907.
 
Uma curiosidade é que um dos primeiros elevadores do país foi lá instalado a mando da Rainha D. Maria Pia de Sabóia, entre o térreo e o andar nobre da Galeria do Norte, tinha a capacidade para dez pessoas e era manobrado por 4 homens, conhecido como “vaivém ou caranguejola” pelos palacianos.
 
Visitar um palácio português é como vivenciar parte de nossa história entrando em um túnel do tempo, passeando por dentro de nossos livros escolares. Sempre nos encantará, provavelmente, alguns capítulos começaram a ser traçados em um destes belos recintos palacianos, em algum salão, até mesmo nos corredores, nos dormitórios, quem sabe…
 

*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).