Emanuela Sousa

14/02/2021 00h10
 
A realidade do BBB
 
Não podemos negar, não se fala em outra coisa nessa últimas semanas a não ser sobre a estreia do Big Brother Brasil. Ele vem chamando a atenção nas últimas edições e dividindo opiniões. Nas duas últimas edições, a Globo uniu anônimos e influenciadores digitais para se enfrentar no jogo.  
 
Se você, leitor, tem o antigo  pensamento de "como é possível escritores e intelectuais assistirem a um programa  banal, irrelevante e que seja perda de tempo?", permita-me dizer que não passa de um ledo engano. Essa atração tem trazido reflexões, questionamentos e temas muito significativos para discutir nos tempos atuais.
Confira:
 
I - Falta "fair play" no jogo e na vida
 
Ficou muito explícito, logo na primeira semana, que entre os influenciadores que pregam valores como igualdade, direitos humanos e empatia falta afeto, cuidado entre os seus em alguns momentos. Em vez de estender a mão para um dos participantes que estava sendo falho, como um gesto até mesmo de exemplo, o massacraram com palavras agressivas, pesadas, repudiando o rapaz, tornando o reality um show de horrores e despertando gatilhos em milhares de jovens. 
 
Esse é um retrato muito comum do que acontece no Brasil. Muitas vezes, quando estamos em boas condições, falta "fair play" com quem está ao nosso lado, falta agir com empatia com quem tem fragilidades mais graves do que as nossas. Às vezes muitos se deixam levar pela vaidade e soberba. E isso o reality não pôde censurar. Muitas máscaras caíram. 
 
II- A militância pode ser exaustiva se não ditada de forma correta 
 
O que mais me entristece nesse programa - e me causa cólera, é a militância exagerada que vem ocorrendo por uma das participantes. 
A repetição de pautas tão importantes como o racismo, empoderamento feminino, o orgulho Lgbt (lembrando que nesta edição com um número maior de participantes negros) sendo tratadas, muitas vezes de forma incorreta e cansativa, num tom agressivo, causando desgaste emocional até para quem assiste. Os discursos deixam um alerta para a realidade aqui fora, vindo de tantos que abusam do poder, levando à opressão e manipulação de quem os segue. 
 
 A militância não tem a ver com agressividade, caso contrário, é um desserviço. Além de não passar o ensinamentos de maneira correta, afasta quem está disposto a aprender. 
 
III- A bifobia existe 
 
Quando o participante Lucas beija Gilberto durante uma das festas no programa, marcando o primeiro beijo gay na história do BBB, uma cena constrangedora acontece. Em vez de comemorarem a saída do armário do rapaz, ele literalmente é oprimido e questionado se realmente era bissexual ou se era apenas  estratégia de jogo. Colocando-o  numa cena de constrangimento, humilhação, como se já não bastasse toda violência gratuita que vinha sofrendo. Ele simplesmente não aguentou a pressão e pediu a saída do reality. 
 
Outra cena comum no Brasil, mas que acaba sendo ignorada. É preciso lembrar que existem homens que vivem em periferias e assim como Lucas são bissexuais, outros homossexuais... Mas pelo medo de não serem aceitos, carregam durante anos este segredo na alma. O preconceito que ainda ronda as periferias pelo Brasil afora precisa urgentemente ser revisto e quebrado. 
 
Sendo assim, essa edição, apesar de toda a polêmica, tem trazido muitas reflexões... Um convite para nos alertar de como nós temos nos comportado aqui fora, longe das câmeras e como muita coisa ainda precisa ser mudada.
 
 
 

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