Emanuela Sousa

07/02/2021 10h20
 
Renascer das cinzas 
 
Eu estava durante todos os dias agoniada para escrever algo que desse o pontapé inicial do ano. Mas o bloqueio vinha toda vez que me encontrava de frente para o papel e a caneta.  Algo dentro de mim pedia para eu não ter pressa... Mas não ter pressa pelo quê? Por quem?  Pelo início de alguma coisa?  Ou pela demolição de algo que só eu vinha construindo? 
 
Não havia outra saída... Melhor abaixar as armas, guardar a armadura. Você não venceu dessa vez. - E está tudo bem. 
 
Vai se despedindo aos poucos, quem disse que seria para sempre? Acene de longe mesmo, assim não precisará fazer cerimônia de despedida. Faça o chek-in e as malas, de forma cordial, agradeça a visita.  
 
Sem confusões, sem dramas.  
O final das relações é e sempre será inevitável. Mas a morte de tudo isso será necessária para o seu renascimento.
 
A gente fecha os olhos para essas idas porque sabe que estão levando na bagagem um pouco de nós, a gente sabe do luto, do sofrimento que muitas dessas idas nos provocam. Mesmo assim, lá no fundo, bem no fundo, sabemos que as chegadas são temporárias. Sabe quando é a hora de dizer adeus, de colocar um ponto final onde não há mais vírgulas, afinal, nunca nos pertenceram. 
 
A gente não pode brigar com o destino, nem com todos os deuses existentes nessa vida, não pode ignorar a intuição, a sensibilidade, nem mesmo os avisos dos astros (caso você acredite neles). A gente precisa atravessar esse tempo com maturidade e reconhecer que, ao passar pelas estações, como o  outono e o verão, estaremos propensos a mudar também. E  mudanças exigem jogo de cintura, uma mútua movimentação de pessoas e mais um pouco de adaptação. 
 
Eu já morri vendo tantas partidas que não tenho mais medo da morte. Quando vão embora de mim, sei que irei morrer um pouquinho... Seja de saudade, seja pela abstinência por não ter mais... Depois de um tempo volto renascente das cinzas. 
 
E será sempre assim: idas e vindas. Chegadas e partidas, não estamos seguros de quando será a próxima partida, ou se seremos nós os próximos a serem despejados. O que resta é o agora... Isso te assusta ou te conforta?
 
Movida pela dinâmica de que morrerei para renascer,  espero ansiosamente pelos próximos capítulos desse livro que se chama viver a vida. Passada a tempestade, os dias escuros, voltei a pegar o caderno, sentar de frente para a janela para escrever. Já não sinto o peso do luto, da melancolia... O que estou sentindo agora? Alívio, paz interna, vigor. 
 
Agora, com convicção,  tenho a plena certeza que renasci de minhas cinzas.
 
 

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