Ana Carolina Monte Procópio

11/01/2021 09h11
 
 Dia dos Santos Reis
 
 
“Tendo, pois, Jesus nascido em Belém de Judá, no tempo do rei Herodes, eis que magos vieram do Oriente a Jerusalém. Perguntaram eles: ‘Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo’.”
                                                                                             Evangelho segundo São Mateus, 2; 1-2  
 
Em 6 de janeiro comemora-se o dia dos Santos Reis. Mas o que significa esse dia, qual o seu alcance para os dias atuais?
 
Os cristãos ortodoxos e o povo armênio ainda comemoram o nascimento de Cristo nessa data, como se dava nos primórdios da cristandade. É que no dia 25 de dezembro comemorava-se grande festa pagã em homenagem ao Deus-Sol, divindade integrante do politeísmo romano. Quando Roma se converteu ao cristianismo, os representantes da igreja de então resolveram alterar a data para o dia de 25 de dezembro a fim de incorporar a festa pagã, muito popular entre o povo, incluindo-a no calendário cristão, mas com o significado renovado: o do nascimento de Jesus. Os cristãos orientais, mais distantes das deliberações da igreja de Roma, mantiveram as comemorações como eram originalmente. Após essa alteração, o dia 06 de janeiro ficou definido, na tradição cristã, como o dia de homenagem aos reis magos.
 
Segundo a Bíblia e a tradição cristã, os sábios do Oriente receberam o anúncio da Boa Nova, a chegada do Salvador, e puseram-se em viagem para conhecê-Lo e adorá-Lo. Veja-se aqui a natureza do reconhecimento do Mistério entre os seres humanos e o sentido da devoção. Quando o Verbo se fez carne e a divindade veio para habitar a humanidade, os reis magos reconheceram a imensidão do acontecimento e o priorizaram. Enfrentaram caminhos desconhecidos, guiados pela estrela de Belém – representando a fé – e foram ao encontro do chamado maior. Vieram de diferentes partes do mundo e eram oriundos igualmente de diferentes povos – representando a pluralidade e a unidade. Eram sábios, diz a Bíblia, e magos, segundo a tradição cristã – simboliza-se aqui também o ecumenismo, a pluralidade de crenças. Os diferentes se guiaram irmanados por um mesmo espírito de adoração, movidos pelo Amor.
 
Além de definirem como prioridade em suas vidas o encontro com o divino, os magos levaram-lhe presentes. Esse sentido de reverência, adoração e reconhecimento é importante valor a ser observado na contemporaneidade de valores líquidos e referências ainda mais. No tempo da velocidade, da fama instantânea, dos flashes, selfies e narcisismo, adorar e reverenciar lembram de que há um sentido maior para a existência. Para reconhecer isso, não é preciso ter uma religião, uma fé ou até mesmo crer em Deus. Basta conceber que a vida tem um significado maior que o que faz sucesso em determinado momento, cada vez mais efêmero, aliás. A existência, afinal, não é um grande espelho; antes, é um olhar para si e para fora com um mesmo olhar amoroso e compassivo. Se há ou não uma existência posterior a esta é questão que diz respeito à fé de cada um, ou mesmo com a falta dela. O fato é que, independentemente da vida pós-morte, a este tempo em que passamos na Terra, com a identidade que nos foi dada, pode-se atribuir um significado que transcenda a própria individualidade, com o reconhecimento de que somos parte de um todo que nos é a todos comum. 
 
Esse reconhecimento tem reflexos no dia a dia, na forma de viver cotidiana. O olhar para fora com amor implica a consciência de responsabilidade para com todas as pessoas, tema que ganha especial relevância quando o mundo está afetado por uma moléstia de âmbito universal e que somente pode ser combatida e vencida com a participação de todos. 
 
Tive notícia de que o dia 06 de janeiro é também o Dia da Gratidão. Em que pese haver atualmente um dia pra tudo, a maioria inventado a esmo, acredito, o fato é que é bonito pensar que há um dia dedicado à gratidão. E não por acaso que seja o mesmo dia em que se comemoram os reis que foram reverenciar o Deus menino, em atitude de adoração, humildade e gratidão também pelo presente divino.
 
Os reis magos levaram presentes ao recém-nascido. O que poderíamos presentear uns aos outros hoje, vendo em cada ser um filho amado de Deus? Três presentes, entre tantos outros, seriam especialmente válidos neste janeiro de 2021: - vacina, - esclarecimento e empatia, de que andamos tão carentes.
 

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