Cefas Carvalho

06/01/2021 09h30
 
Elba Ramalho e os meros devaneios tolos a nos torturar
 
 
A declaração recente da cantora Elba Ramalho de que a Covid-19 "é uma doença criada por comunistas para destruir os cristãos".me evocou momento curioso em que presenciei essa, digamos, desconexão da artista com a realidade.
 
Foi em 2007, uma festa no Centro de Natal que além do ano novo celebrava extra-oficialmente a reeleição da então governadora Wilma de Faria. No palco, Elba Ramalho, quase onipresente nas programações musicais da gestão da ´Guerreira`. Entre o ótimo e animado show e as canções clássicas, Elba decide fazer um discurso contra a morte de Saddam Hussein, ditador do Iraque, que havia sido assassinado dias antes pelo exército norte-americano.
 
Não que eu seja pró-EUA ou que tenha qualquer opinião sobre Hussein ou mesmo que considere que artistas não devem se pronunciar politicamente quando no palco, nada disso, pelo contrário. A questão ali é que Elba não falou coisa com coisa. Disparou algo como lamentando a morte dele, depois que ninguém deve ser morto, por fim, ninguém entendeu exatamente o que a cantora desejava dizer.
 
Em 2001 Elba havia chamado atenção por uma entrevista à Veja onde disse que  já tinha sido abduzida por uma nave extra-terrestre, mas não tinha consciência de quando isso aconteceu, mas que havia sido implantado um chip no corpo dela. Depois processou a revista e perdeu.
 
Enfim, a cantora tem vasto currículo em falar frases sem sentido e sem comprovação. Isso não desmerece o trabalho dela, que é de alta qualidade e sempre foi respeitado por gente do porte de Chico Buarque e Caetano Veloso. Não precisamos desqualificar a sólida obra de Elba Ramalho. Mas, também não precisamos dar tanto valor a tudo que ela diz.
 
A militância progressista parece monitorar frases e declarações de artistas para coloca-los do poço sem fundo do bolsonarismo-fascismo. Às vezes é necessário. Outras vezes, não. Em relação a Elba, me parece haver muito barulho por quase nada. Elba já falava coisas sem sentido quando Bolsonaro era um ilustre desconhecido e continua falando agora e possivelmente continuará fazendo, seja de maneira gravada ou em particular. 
 
Deixemos Elba para lá com os meros devaneios tolos a lhe torturar, como diz a letra de "Chão de giz", de Zé Ramalho, que ela interpreta lindamente. E que esses devaneios de Elba não nos torturem, que o verdadeiro problema não está nos chips e alucinações da cantora e sim lá em Brasília, com um governo miliciano e uma eleição da Câmara Federal decisiva para a Democracia brasileira.
 
 

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