Andreia Braz

26/10/2020 12h47
 
Seja um doador de sangue!
 
Dentre os inúmeros pedidos de ajuda que circulam diariamente nas redes sociais, alguns deles estão relacionados à doação de sangue. Um pedido diferente da maioria das vaquinhas que inundam o ambiente virtual, sobretudo em tempos de pandemia, em que o desemprego aumentou vertiginosamente e milhares de pessoas estão sobrevivendo com a ajuda de projetos sociais. Um pedido que, aliás, exige pouco de quem se dispõe a ajudar. Para doar sangue, basta ter entre 16 e 69 anos e pesar mais de 50 kg. Além disso, é preciso estar bem alimentado, ter dormido ao menos seis horas nas últimas 24 horas e não ter consumido bebida alcoólica nesse período. Quem for menor de 16 anos, precisa da autorização do responsável legal. 
 
Estando saudável, é só agendar uma doação em um dos dois hemocentros de cidade, Hemovida e Hemonorte. Lá, será feita uma avaliação e, estando tudo nos conformes, é realizado o procedimento, que é antecedido por exames básicos e entrevista com um médico. A doação em si é coisa rápida, a minha geralmente é concluída sete minutos. Caso deseje, o doador pode pegar um atestado e ser dispensado do trabalho naquele dia. Antes da pandemia não era preciso agendar a doação, mas agora é necessário para evitar aglomerações e garantir a segurança dos doadores. 
 
Voltemos aos pedidos de doação de sangue na internet. Nesses últimos dias, tenho observado ainda alguns cartazes virtuais incentivando a doação de medula óssea, nesse caso, o cadastro no banco nacional de doadores para que sejam encontradas pessoas compatíveis com quem está na fila de espera. Embora seja um procedimento relativamente simples, a chance de encontrar um doador compatível é um a cada 100 mil. Por isso a importância de um grande número de doadores cadastrados. O procedimento é o seguinte: é coletada uma pequena quantidade de sangue para fazer os exames de compatibilidade (10 ml) e em seguida o doador é cadastrado no Registro Nacional de doadores de Medula Óssea (Redome). Depois, é só esperar uma ligação para realizar o procedimento e ajudar a salvar uma vida. Ou duas, em alguns casos. Outro dia li uma matéria comovente sobre a história de duas crianças gêmeas de Recife que foram diagnosticadas com uma doença rara que afeta o sistema imunológico e receberam a doação de medula óssea aos três anos de idade. É muito importante manter o cadastro atualizado. Caso não se sinta seguro, o doador tem direito de desistir da doação.
 
Muitas vezes, o transplante de medula óssea é a única esperança de cura para alguns pacientes, é o caso de pessoas que estão enfrentando doenças como aplasia medular, leucemias e alguns tipos de câncer, e a doação é um gesto que poderá significar a continuidade da vida para esses pacientes. A atriz Drica Moraes, por exemplo, foi diagnosticada com leucemia em 2010 e precisava com urgência de uma doação de medula óssea. Nenhum dos seis irmãos dela era compatível e foi o gesto de um doador anônimo que salvou sua vida. Cinco anos após o transplante, ela recebeu um telefonema do Instituto Nacional do Câncer (INCA), perguntando se gostaria de conhecer seu doador. Esse é o tempo estipulado pelo órgão para a pessoa transplantada conhecer seu doador, caso deseje. Foi um encontro emocionante. Drica foi até a cidade de Tupi Paulista (SP) conhecer Adilson, o eletricista que hoje ela considera um irmão. 
 
Ano passado ela esteve no Programa Encontro com Fátima Bernardes e deu um depoimento emocionado sobre essa fase de sua vida, reforçando a importância da doação de medula óssea: “Eu precisava de um transplante de medula, caso contrário, eu não viveria. Em dois meses, eu estava entre a vida e a morte e recebi a notícia do meu médico de que tinham encontrado a pessoa para fazer a doação”.
 
Minha amiga Carol Rodrigues, funcionária pública federal, é outra que faz questão de agradecer a solidariedade dos doadores de sangue. Sua filha Talita, sete anos, está na fase final de um tratamento contra a leucemia. A menina precisou de doação de sangue e de plaquetas durante o tratamento e Carol jamais esquece a importância desse gesto de solidariedade. Faz um alerta sobre a necessidade/urgência das doações de sangue nesses tempos de pandemia: “os estoques do Hemovida e do Hemonorte quase zeraram, presenciamos com tristeza crianças, colegas de tratamento, que não receberam plaquetas, necessárias para a manutenção de suas vidas, devido à falta de doações”.
No início do mês o baixo estoque de sangue do Hemonorte foi notícia na mídia televisiva e impressa. A instituição precisa de 800 bolsas de sangue e só dispunha de 400. Uma notícia preocupante. Semana passada, assisti a uma outra reportagem igualmente preocupante sobre o estoque de sangue do Hospital Walfredo Gurgel, a maior parte destinado a pessoas que serão submetidas a cirurgias.  
 
Em todas essas matérias os diretores das referidas instituições, além de mostrarem a situação do órgão que estão representando, convocam a população a doar sangue. Lembro de uma entrevistada falando da importância de conversarmos com nossos amigos e incentivá-los a realizar uma doação de sangue. Ela diz que é preciso falar sobre doação de sangue o tempo todo, no trabalho, nos eventos familiares, nos momentos de lazer. A doação de sangue pode ser voluntária ou destinada a um paciente, neste caso para repor o estoque do hospital onde está internado. Além de ajudar quem precisa, o doador de sangue também pode conseguir a isenção da taxa de inscrição de alguns concursos. Alguns órgãos públicos concedem isenção da taxa para pessoas cadastradas como doadores de medula óssea.
 
Comecei a doar sangue ainda no ensino médio e o cadastro para ser doadora de medula óssea veio um pouco mais tarde, somente em 2008. Estou há doze anos na fila e continuo na esperança de ser chamada para fazer a doação a qualquer momento. Enquanto esse dia não chega, seguimos doando sangue e incentivando os amigos e familiares a fazer o mesmo. A propósito, enquanto escrevo esta crônica, estou trocando algumas ideias sobre o tema com minha amiga Cícera Moura, via WhatsApp, que também é doadora e está sempre incentivando os amigos a fazerem o mesmo. Administradora e concurseira, está superorgulhosa por ter conseguido, finalmente, se tornar doadora. Ela e o esposo, Werneck, funcionário público, são doadores de sangue e estão sempre atentos aos pedidos de doação. Cícera está tentando encontrar alguns doadores de sangue para um amigo que será submetido a uma cirurgia essa semana. Um paciente idoso que descobriu um câncer em estágio avançado. A família está muito apreensiva e conta com a solidariedade dos amigos nesse momento tão delicado. 
 
A conversa foi longa e muito produtiva. Ela conseguiu mais uma doadora e eu a motivação que faltava para terminar a crônica da semana. Seguimos mais confiantes e acreditando que o caminho para a conscientização sobre a importância da doação de sangue e de medula óssea seja a educação. Tenho certeza que Glenda, sete anos, filha de Cícera e Werneck, quando chegar na adolescência, vai encarar com naturalidade a adesão à doação de sangue.
 
Além das campanhas educativas que são veiculadas na mídia, é preciso focar nos estudantes do ensino fundamental e do ensino médio para que compreendam a importância da doação de sangue. Aliás, o Hemonorte tem um projeto cujo objetivo é orientar alunos de escolas públicas e privadas sobre a importância da doação de sangue. E foi esse mesmo projeto que me fez doar sangue pela primeira vez aos 18 anos. O Projeto Construindo Doadores do Futuro, implementado em 1995, busca disseminar a cultura da doação de sangue nas escolas por meio de palestras, eventos socioeducativos e culturais. Com isso, estudantes e professores se envolverão no processo de formação de futuros doadores e agentes multiplicadores da doação de sangue. 
 
 

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