Emanuela Sousa

06/09/2020 00h15
 
Um ano em preto e branco
 
 
No meio das anotações, fotografias e músicas anexadas na pasta de um notebook, meus olhos saltaram quando vi uma foto minha ainda no começo do ano. Eu estava feliz e radiante, no meio da avenida Paulista. Era vinte e dois de fevereiro, eu nem pensava em quarentena.
 
Meus olhos pousaram no calendário: primeiro de setembro. Mais um mês começando e  apenas quatro para acabar o ano... Sensação estranha, meu estômago se revira, passa um filme na minha mente dos meses anteriores... Setembro sempre foi um mês marcante pra mim, e um dos que mais consigo desenvolver, tanto profissionalmente quanto na vida pessoal. Nos últimos anos, os meses de setembro estão vindo com uma doce e leve névoa, trazendo conforto, novos laços de amizade e destaque profissional. Coincidência ou não, sempre mantive o otimismo e deixei que este mês surpreendesse. A real é que ao virar a folhinha do calendário esses dias, não senti o efeito de antes, como a empolgação, entusiasmo... Afinal, 2020 conseguiu atropelar todos meus planos e trouxe consigo um cenário sombrio e sem perspectivas. Como me convencer à ficar feliz? Se ainda estamos à espera da vacina, por exemplo. Vamos dia após dia sobrevivendo com máscaras, álcool gel e tomando todo cuidado (que ainda é pouco).
 
2020 é um ano tortuoso, cheio de curvas e acredito que não só para mim, como para todos. Há dias que passamos bem e conseguimos alcançar a plenitude no final, ao ver o pôr do sol. Em outros, não conseguimos enxergar o final dele. Uma curva fora do que esperávamos.
 
2020 trouxe surpresas, diversos exposed e algumas coisas vieram à tona (e acredito que até o final do ano iremos ver mais disso) e talvez algumas surpresas não muito agradáveis, mas foram necessárias para ampliar nossa visão e repensar sobre nossos conceitos. Concorda?
 
Quando paro e penso em como este ano andou, me vem uma mistura de sentimentos, um filme em preto e branco. Eu consegui finalmente lançar o livro, verdade! Mas tive a festa de lançamento cancelada. Eventos literários que eu participaria também foram cancelados. Porém, mesmo em casa, nunca pratiquei tanto o meu hobby em escrita. Textos e mais textos saíram de mim, poesias, poemas... Alguns românticos, outros realistas. Às sextas feiras, por volta das cinco da tarde, sentava no sofá da sala, ainda indisposta na companhia de um potinho de sorvete... A cabeça latejava. Eu havia acabado de entregar três crônicas. Um cansaço prazeroso, dos qual sempre quis ter a oportunidade de experimentar  um dia.
 
Pessoas sonhadoras e de corações inquietos, como eu, são as mais afetadas pela pandemia. A gente quer sonhar, esperamos pelo melhor, mas a realidade insiste em bater em nossa porta com más notícias. Adiamos, mais uma vez, os sonhos esperados.
 
2020 está longe de ser um ano leve como foi esperado. Longe de ser o ano favorito, mas também é um ano que nos convidou a ver a vida de um outro ângulo. Tirar a venda dos olhos e enxergar a fragilidade da vida, em especial as desigualdades.  ( infelizmente nem todos conseguem ver) 2020 é um ano preto e branco, que serve pra a gente guardar na caixinha de memória em referência de amadurecimento e alguns aborrecimentos.
 

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