Emanuela Sousa

30/08/2020 09h36

 

A realidade me faz querer sonhar

 

Encerro o mês de agosto como se eu tivesse deixado uma mala pesada no meio da estrada. Deixo para trás o peso nos ombros, as angústias e a incerteza que vivi, como se não ja bastasse os escândalos, as injustiças que vemos na TV todos os dias e o momento crucial de pandemia que vivemos.
 
Diferente dos outros anos, agosto passou de forma dolorida, mas rápida, como se adivinhasse que seria sofrido, porém pedindo calma, pois tudo seria breve.
 
Ainda essa semana peguei o elevador, mas esqueci de apertar o meu andar.
 
Eu com os meus pensamentos longe - como sempre,  estava tentando lembrar do que havia conversado com a minha terapeuta na última sessão.  Eu estava tentando lembrar do momento que comentava com ela como a pandemia afetou à todos de níveis e de formas diferentes, mas deixou boa parte de nós como vítimas da carência pela falta do toque, de não ter alguém para nos acolher em nossos momentos de incertezas, quando pensamos que por um momento tudo fosse desmoronar... O meu vizinho entrou no elevador, perguntou sorrindo "em qual andar você vai descer, moça?" Em instantes voltei para o planeta terra, respondi sem jeito que ia descer no andar seis.
 
Eu achava que estava tudo bem comigo, que durante a pandemia eu ia conseguir me agarrar à estante de livros, às músicas, nas conversas até tarde da noite com amigos e assim suprir minhas carências... Ledo engano. Ignorar a realidade atual nem que seja por alguns minutos, faz parte do processo. Mas quando me vi em crise, sem ter onde me segurar, percebi claramente que nada estava sob o controle. 
 
Muitas vezes a realidade escurece nossas vistas. Às vezes tudo que queremos é nos agarrar em nossas fantasias, nos preencher com excessos, se aproximar das nossas paixões e assim ignorar o que está acontecendo no mundo. O problema é que essas minhas paixões não duram, não ficam. Minhas inclinações românticas, sempre recheadas de ilusões se perdem por aí... Eu que não perco meu tempo procurando. Logo eu, imediatista, tenho meus anseios para experimentar algo novo, inédito, tenho preguiça de ficar indo à procura de quem não está mais comigo, confesso.
 
Agora que cheguei em casa, tirei os sapatos, entro num dilema... O que me resta agora? Depois de sobreviver mais um dia exaustivo de trabalho, de ler o noticiário e me indignar mais uma vez com as notícias? O que me resta é sonhar.
 
Me trancar no quarto, dar play na minha nova playlist, escrever uma nova poesia... Quem sabe? Quero algo clichê, ao som de Cazuza. Escrever sobre mil rosas roubadas ou sobre um amor exagerado, que nasceu da minha imaginação. Assim como Cazuza eu "adoro um amor inventado" . Enquanto o amor real não vem, vou o criando minha imaginação, vou fantasiando, dançando... Enquanto o fim do  mundo não vem.
 

*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).