Renisse Ordine

04/06/2020 09h16
 
Resenha: A Senhora do Café
 
 
Uma característica importante nessa obra é a luta secular das mulheres e dos negros para conquistarem a sua liberdade. 
 
É só andar pelo Vale do Paraíba para sentir a história reviver a cada passo. É uma região magnífica, marcada por uma arquitetura que instiga e faz brilhar os olhos dos historiadores e admiradores. 
 
Porém, neste mundo modernizado no qual vivemos, estamos tão preocupados com o futuro, que é fácil nos esquecermos dos antepassados e das pessoas que fizeram a nossa história acontecer. Podemos constatar esse fato pela destruição e a falta de zelo com as antigas construções, tendo a sensação de que o velho incomoda e atrapalha a arquitetura contemporânea. 
 
Sendo, essas atitudes, frutos do desconhecimento e da ausência de uma relação entre a sociedade e sua história. Os fatos repassados na escola são muito superficiais e desinteressantes. As pessoas tendem a ficarem acorrentadas aos livros didáticos, sem imaginar que há muito além dessas informações. Há histórias e também há pessoas que viveram e marcaram uma geração, que ali não constam. 
 
Sob as ruas por onde caminhamos está o solo por onde passaram todos os antigos e peculiares moradores que fizeram do Vale do Paraíba o que ele é. Ele é parte primordial do Brasil Colonial, Imperial e Republicano. A criação do Caminho Novo da Piedade foi o início dessa região por onde passaram bandeirantes, tropeiros e depois as linhas ferroviárias e também diversas personalidades da história nacional. 
 
Uma dessas pessoas foi Maria Joaquina de Almeida, conhecida como a Senhora do Café, por todo o vale histórico. Sua vida foi tema de estudo do professor e escritor Diego Amaro de Almeida, tornando-se uma de suas principais obras. 
 
No livro homônimo, além da biografia, também temos a oportunidade de conhecermos mais um momento de uma era em que as mulheres tinham que superar uma sociedade patriarcal para sobreviver de modo independente, com a obrigação de demonstrar os seus valores. 
 
Uma independência concedida a custo de uma viuvez foi o estopim para que surgisse a “A Matriarca de Bananal”, que com sua postura feminina e de líder soube gerenciar os bens de sua família, e enfrentar as mudanças sociais, no momento em que o tráfico internacional de escravos torna-se proibida no país, fato que influencia negativamente as produções de café. 
 
Vale ressaltar, a preciosidade da obra no que se diz respeito ao contexto histórico, que contém uma cronologia da época que vai desde o surgimento das linhas férreas até a situação do negro escravizado diante das mudanças da lei Eusébio de Queiroz. Uma lei promulgada em 1850, que veio a modificar as relações entre os senhores e escravos. 
 
Como já citado, com a Lei Eusébio de Queiroz, o tráfico negreiro torna-se proibida. Sendo esta, uma pressão feita pela Inglaterra para que o Brasil aceitasse libertar os seus escravos. Ideia que a elite brasileira não aceitava de forma alguma, colocando como argumentos que tal atitude, provocaria uma decadência econômica ao país. Devido a isso, essa lei não foi implantada fielmente, mas foi o inicio de um processo de futura libertação dos escravos. Percebemos que, até hoje, a elite sempre procura se proteger utilizando esse argumento para escravizar o trabalhador. 
 
 No livro encontrados trechos em que o autor cita como os senhores tinham o cuidado de não permitir a comunicação entre os escravos de outras fazendas, para que não fossem elaborados planos de rebeliões. Eles tinham muito receio dessa nova ideologia libertária que estava invadindo os ares brasileiros.  
 
Além da questão de sobrevivência por parte da elite, o que vem a caracterizar a obra de Diego Amaro de Almeida, um pesquisador sobre as mulheres do vale, é o destaque da figura de Maria Joaquina de Almeida, em uma época em que as mulheres viviam sob as rédeas dos pais e posteriormente as do marido. Revelando a sua importância para o crescimento da cidade de Bananal, onde ela se destacava como personalidade maior na sociedade pela sua destreza no gerenciamento dos negócios provindos da herança de seu marido. 
 
Para conhecimento, vale ressaltar, que a cidade de Bananal, chegou a ser uma das mais ricas do Brasil, devido à permanência de poderosos fazendeiros que ali viveram e prosperaram devido à cultura cafeeira, chegando a ter moeda própria e a primeira a receber uma ferrovia (1822). Atualmente, a cidade é uma das tantas esquecidas pela história, e sobrevive do turismo, conservando a duras penas toda a arquitetura da época. 
 
Com a leitura do livro, partimos da compreensão do quanto às mulheres vem lutando pela sua liberdade, na tentativa de livrar-se das amarras que não desassocia a figura feminina a da submissão. È uma luta diária para que a mulher consiga mostrar o seu valor.  
 
Ainda estamos longe, e os nós são desatados com dificuldade, para conquistar a tão sonhada liberdade, assim como os negros, que caminham com sacrifício para poderem viver com dignidade e respeito, principalmente, no Brasil. 
 
O livro também nos leva a reflexão sobre a importância de aprendermos cada vez mais sobre a história de nosso país, e para entendermos cada vez mais com os nossos antepassados. Tendo em mente, que devemos sim, caminhar com precisão rumo ao futuro, mas conhecedores de nossa posição no mundo. 
 

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