Andrea Nogueira

07/12/2019 11h15
 
Onde está minha minisaia?
 
 
Mulheres que buscam uma carreira profissional e um melhor posicionamento no mercado de trabalho associados ou não ao sucesso na vida familiar, estão sendo cada vez mais cobradas pela sociedade que “lhe permitiu” tamanha ousadia.
 
Hodiernamente, as mulheres não somente são lembradas por serem fortes, aguerridas e vitoriosas no quesito “novos direitos”. São lembradas também das “obrigações” embutidas no novo perfil de mulher – o perfil mulher moderna e empodeirada. Ocorre que essas “obrigações” nem sempre estiveram expostas e numa grande parcela de mulheres do mundo, jamais foram desejadas durante suas lutas desbravadoras.
 
Falamos aqui da “obrigação” de ser femme fatale só porque é independente financeiramente de um homem ou emocionamente equilibrada e feliz mesmo estando fora de um relacionamento amoroso. Falamos aqui da “obrigação” de usar minisaia só porque já se conscientizou que é dona do seu corpo e do modo de se vestir. Falamos da “obrigação” de ser forte o tempo todo só porque exerce os papeis fundamentais de pai e mãe, cumulativamente. Falamos de diversas obrigações impostas às mulheres desde que passaram a ocupar assentos importantes no mercado de trabalho, na vida política, no contexto geral que importa economicamente para o desenvolvimento do país. Obrigações estas, impostas pela sociedade como moeda de troca pelos direitos alcançados. É como se todas as mulheres modernas e empodeiradas tivessem que ser iguais no que se refere ao modo de vestir-se e portar-se, nos seus gostos por ambientes, desejos financeiros e finalidades de vida.
 
Tantas obrigações nas entrelinhas das conquistas de direitos não foram negociadas com as beneficiadas, mas estão sendo verdadeiramente impostas, mesmo que de forma velada.
 
Assim, importa frisar que essas “obrigações” não passam de novas correntes amarradas nos pés de quem está prestes a modificar o mundo corriqueiro e costumeiro tão confortável para uma grande parcela da população. Por isso, urge reconhecer uma nova fase de conquistas femininas: a fase do usufruto da sua liberdade reconhecida.
 
As mulheres querem apenas ser livres. Livre para usar saia curta ou comprida, sem que isto seja suficiente para defini-la. Livre para assumir grandes funções ou realizar trabalhos voluntários acumulados com a vida doméstica que lhes satisfaz. Livre para usar um pequeno biquíni ou simplesmente só gostar de maiôs. Livre para querer ser rica ou não querer. Livre para decidir se fará sexo casual ou dentro de uma relação estável. Livre para ser tímida. Livre para usar tênis ou sapato alto. Livre para usufruir de uma liberdade igual aquela experimentada por homens ao longo de milhares de anos. E livre para ser ainda mais livre a cada novo dia.
 
A expressividade de independência de uma mulher vai além da roupa que ela usa e além da forma como ela fala. O famoso “poder” feminino está no exercício de sua liberdade. Assim, o rompimento com a imagem de "Amélia" (dona de casa dedicada ao lar, ao marido e aos filhos) que parece algo típico do século passado, não pode constranger nenhuma mulher a inserir-se num padrão pré-estabelecido de empodeiramento feminino. Aliás, querer ser dona de casa dedicada ao lar, ao filho e ao marido pode ser a definição de mulher empodeirada, desde que ela tenha diante de si todas as opções de vida desejáveis pela maioria, mas faça sua escolha voluntária por aquela realidade.
O poder da mulher está na sua liberdade de decisão e no exercício do direito de ação.
 
Oscar Wilde, influente escritor, poeta e dramaturgo britânico, mesmo vivendo em meados de 1870 já dizia: “provede às mulheres oportunidades adequadas e elas poderão fazer de tudo”. Quanto à minissaia, não é mesmo uma obrigação. 

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